Laura de Jesus
Sobre a dor temporária
Eu queria dizer-te ao ouvido que me cansam os teus queixumes
que a vida são dois dias e não uma faca de dois gumes.
Eu queria dissipar a dor que sentes permanente, que levas
pro sono urgente e escuro. Mas sabes, essa dor é que te salva,
que te esconde e te cuida de outras dores que tem o mundo
Já percebi que devo manter-te a dor a par com os dias
Que das feridas que o mundo tem, essa não te matará.
A primavera colher-se à e, afinal, ter dezembro às costas ou na mão
não há-de ser tão definitivo, pois que de janeiro a março,
devolvida e intocada
surgirá a primavera, sempre como a conhecemos, renovada.
E tu saberás valorizar, melhor do que ninguém, essa estação.
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