Al Qabri Ramos
Construíste-me, no quintal,
um mocho de pedra junto à Oliveira,
onde posso sentar nos finais da tarde,
a esperar-te, a memorizar os verdes.
Vislumbrava sempre uma qualquer página em branco
a gatafunhar, enquanto me perdia entre a observação
do formigueiro junto aos esteios
e as preambulações da Maria Zé e do Lúcio.
Em frente, a serra.
Perdemo-nos facilmente entre passado e futuro,
Perdemo-nos facilmente entre passado e futuro,
nas sombras de um chão frio, que acolhe os pés
a salvo do verão quente, no interior, lajes e loiças.
No murmúrio das águas, o poisar
dos alfaiates. No acalmar do cio.
A nascente transborda nas minhas mãos,
A nascente transborda nas minhas mãos,
castanhas de barro.
E eu delicio os sentidos, bebericando os dedos
no fio límpido da fertilidade.
Na mesa, do outro lado
das sebes, alguém nos chama: - O café pronto.
Sento-me ao teu lado, malga na mão.
Sento-me ao teu lado, malga na mão.
Nos cabelos a brisa de final de tarde
acaricia-me enquanto o céu se desdobra
em rosas e laranjas.
E falas-me da formação das nuvens,
da direcção dos ventos
porque fazes questão de ser
o meu homem da meteorologia.
Cheiro as uvas brancas.
Cheiro as uvas brancas.
Vamos estar em Setembro e terei
que calçar chinelos para atravessar a terra
quente e ressequida de sol.
E colher-te os primeiros bagos da padeira
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