Annie Ernaux, não saí da minha noite
Uma evocação inesquecível de amor, de memória e da dor de separação
entre mãe e filha
mal e foi hospitalizada. Aperceberam-se de que não comia nem bebia há vários
dias, estava desorientada, revelava falhas de memória. Pouco depois, foi
diagnosticada com a doença de Alzheimer. «Não saí da minha noite» foi
a última frase que escreveu, numa carta a uma amiga, quando já se encontrava
a viver com Annie, que nos três anos seguintes manteve um diário.
Aí registou não apenas os sinais do agravamento da doença da mãe,
mas também os seus próprios sentimentos ao ver-se impotente,
assistindo ao definhar daquele ser que lhe deu vida.
«Sonho muitas vezes com ela, tal qual era antes da doença.
Está viva, mas esteve morta. Quando acordo, durante um minuto,
tenho a certeza de que ela vive realmente sob essa dupla forma,
morta e viva ao mesmo tempo, como as personagens da mitologia
grega que atravessaram duas vezes o rio dos mortos.»
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