Cristina Guedes
Avessos
A combinação não era lá essas coisas. Nunca fui forte a combinar coisas. E pessoas não se combinam. Sentam-se juntas.
Sentámo-nos. Sem assunto. Não inventamos. Não havia o que inventar. Nem o frio que corria a esplanada, nem o empregado a trazer o café, nem o cigarro que teimava em queimar, levando o fumo a lamber-te a cara, nem o meu sorriso satisfeito e nem o teu olhar amedrontado. O assunto era o sem assunto. Nem por isso foste embora, nem por isso fiquei. E depois e depois, os teus olhos, e depois o mar que se espelhava neles, E depois a tua forma de fugires ao meu olhar e depois, tantos depois estamos por aqui, ambos sem medo, ambos - os dois.
Tu eras vinho e eu água de rio. Doce, dizias. E eras todos as crónicas que não li e eu uma frase solta que por mais que negasses, batia-te inconveniente. E depois, todos os "nãos" que te dei e todos os dias que te não quis, ficaste lá, aqui, em todo o lado, aguardando a presa. E depois? Estamos ambos presos no emaranhado de dias que perdemos a conta, num emaranhado de sentidos que me fazem perder a noção dos outros e até de mim. Não sou capaz de viver os depois sem ti. E esta cumplicidade torna-nos menos avessos a nós.
Sentámo-nos. Sem assunto. Não inventamos. Não havia o que inventar. Nem o frio que corria a esplanada, nem o empregado a trazer o café, nem o cigarro que teimava em queimar, levando o fumo a lamber-te a cara, nem o meu sorriso satisfeito e nem o teu olhar amedrontado. O assunto era o sem assunto. Nem por isso foste embora, nem por isso fiquei. E depois e depois, os teus olhos, e depois o mar que se espelhava neles, E depois a tua forma de fugires ao meu olhar e depois, tantos depois estamos por aqui, ambos sem medo, ambos - os dois.
Tu eras vinho e eu água de rio. Doce, dizias. E eras todos as crónicas que não li e eu uma frase solta que por mais que negasses, batia-te inconveniente. E depois, todos os "nãos" que te dei e todos os dias que te não quis, ficaste lá, aqui, em todo o lado, aguardando a presa. E depois? Estamos ambos presos no emaranhado de dias que perdemos a conta, num emaranhado de sentidos que me fazem perder a noção dos outros e até de mim. Não sou capaz de viver os depois sem ti. E esta cumplicidade torna-nos menos avessos a nós.
Comentários
Muito íntimo e ao mesmo tempo universal esse teu texto, Nina.
concordo quando a mê fala em cumplicidade, mas, na minha visão, falta algo nessa cumplicidade. sinto a falta da paixão, do tesão ou do amor.
o cenário toma conta da situação. o hábito torna-se cúmplice.
beijos.