Do amor quero tudo!


São para mim, três, os pilares da vida: O AMOR, a SABEDORIA, o COLETIVO.
Nestes três pilares, estão todas as coisas materiais e imateriais da humanidade.
Quando um animal devora outro, uma borboleta é mastigada pelo pássaro, torna-se ela própria em algo maior, no espírito do pássaro. Assim é o AMOR. Quando sentimos o amor infinito e incondicional por outro, nós tornamo-nos o outro. Por isso, sei ser a tua sombra e os teus passos, a tua respiração lenta e ofegante, os teus sorrisos encantadores e a tua tristeza, também as tuas deceções e alegrias, os teus fracassos e sucessos, as tuas lutas e também os teus progressos. Não és tu que beneficias deste amor, espero que, se tu sentires (sentes?) que ele te fortaleça, mas não só, sou eu, sobretudo eu, porque ao sentir-te, ao ter-te em mim, me reconheço, também. Sinto o vento nos teus cabelos e rosto, as tuas lágrimas e também o amor que nutres pelos outros e isso, Faustino, acrescenta-se em mim. Essa fórmula poderosa que transforma tudo à sua volta, que dignifica a espécie humana, não é só através do coito, nem da guerra, nem do ciúme e nem da tristeza. O AMOR é liberdade de ser e de pensar, de se permitir experienciar. E mesmo quando estou triste, me emociono, porque me basta para tal, pensar em ti, olhar-te e o desejo de te retornar a ver emociona-me, repara no poder que tens, através de uma foto, queimar saudades de ti! E sentir-te é fechar os olhos e ver-te da mesma forma, a cresceres como o mar e a marulhares por dentro de mim, nas tuas ondas, nas tuas idas e vindas de espuma, no teu olho de cada cor, dos humores que o mar tem, na tua voz expressando-se sintética e romanticamente. Nas tuas peculiares expressões e silêncios e quanto mais sinto o teu silêncio, mais aprecio a música que crias e entre memórias e fantasias, ganhas o espaço todo e pergunto-me (a esse deus que mora em mim) quanto espaço podes ocupar mais, se lá dentro tenho órgãos cheios de lesleys e artérias, sangue e água, células epiteliais e ossos e suspiros, bactérias, feridas emocionais e expostas, ventrículos pulmonares e sinapses neuronais, hemisférios e glândulas e restos de tudo e de nada, como cabes tu e te tornas em mim, porque tu já és eu, sem fronteiras, só pontes, muitas pontes entre tudo isso e o que me inspiras e me permites sentir. Na tua ausência. Física, somente. Porque nunca estiveste tão presente como agora, neste segundo, em que te penso e te expresso e canto o quão te sinto em mim, para mim. Sento-me e olho-te cabisbaixo e reparo nos pormenores das cores degradé das fotos de mil nove oitenta e picos, mil nove noventa e picos, gastas sim, mas com detalhes ricos que me abrem outras memórias, a guerra no golfo, por exemplo, a hora do fogo de artifício, as paragens nas bermas de Mesão Frio, Santa Marta de Penaguião, na vertigem da corrida entre espetáculos, dormir por aí, S. João da Pesqueira, Besteiros e Granja do Tedo, madrugadas rápidas entre um café e um dinintel, entre um jantar em Oliveira do Bairro e o encontro de amigos de longa data, o Canela e a Ana e a volta a Portugal em bicicleta e os pimbas de ocasião, e montar luzes e som em discotecas, em Cinfães, em Castelo de Paiva, em todo o lado e a ilha verde, em Canedo, os leds, the final countdown e a música, sempre a música entre nós, os Camel, B.J.H, Nina Hagen e Lene Lovich, Alan Parson's e Vangelis, PG e Genesis nas nossas cassetes gastas, nas nossas piadas e conversas sobre o cosmos, Carl Asimov e os big bangs, e tu sempre ao meu lado, para tudo,  e a Lina indo a Marrocos e eu chorando em casa por ti, e a Lina e o David e a Xana e o Mingos, e o lugar do Salto e os jogos de cartas todos os domingos e na praia da Aguda com a doce Dina, e a Ana uma menina, sempre uma menina azul tão linda, a correr dentro da cozinha, de avental, a guardar sacos na gaveta por debaixo do frigorífico, o creme de cenoura servido, o Miguel gótico a chegar com a sua bela namorada ainda, e o Pimenta e a sala de ensaios, os catraios, sempre a risada dos catraios e a Dina no quintal a arrancar limões ao limoeiro para que o nosso filho não nascesse com os cabelos em pé e a minha fome gigante por arroz de marisco, no zagalo, em Espinho, tantas vezes antes do menino, tantas vezes depois do menino, e o citroen que subia e descia, o gs e a diane, a quatro éle sem travão de mão,  e a urbanização de sá e a casa do António e a JVC nas alturas e o nosso amor pelo chão, na cama, em todo o lado, as nossas idas frequentes ao augusto e à céu e depois ao augusto e à céu e ao menino deles, a Filó grávida, a tocar na orquestra o violino, o Isaac a roer as unhas enquanto fazia breaks na bateria, no oculista, a Filó doce já com o menino Isaac junior e  o Alcino a brincar de Quim Barreiros no acordeão palcos afora, e a Diana na ginástica e o Brito a tocar guitarra como ninguém, cheio de pica e a Rosarinho morrendo de amor por ele e ele por ela e o Veludo e o Nizo e a sua bela Inês que foi mais uma conta que Deus fez com a tua ajuda, a e Gena e o Fernando e o Rafael e o Aníbal nos teclados e o  nosso Baquetas a subir máquinas e gruas e motos e luas e baterias, e a nossa Almerinda, o Adérito, a Copinga e o adro da igreja e por falar nesse adro, por causa desse adro, comprei esta terra, por ter um sino na capela e por lhe poder ouvir as trindades, como fazia em Castelo e não há ponta sem nó que não me faça jorrar lágrimas e surpreendo-me com o mar nos olhos que me provoca este amor ainda, porque ao invés de água, se fosse sangue (daria a minha vida por ti, sem dúvida), se fosse sangue, eu já estaria morta, eu e a minha saudade de nós. 

A sabedoria não nasce na pedra do caminho, mas contém o caminho e a pedra. Nem dos impulsos que nos levam a cometer erros na vida, mas os erros da vida trazem sabedoria e são lições que não podemos esquecer. E a vida não tem feito mais nada comigo senão ensinar-me, sobretudo através do amor que, nem tudo o que escolhemos é tradução linear de sabedoria. As ilusões são fantasia, mas elas contêm em si mesmas a sabedoria da infância, que guardamos, bem como os sonhos e dos que não concretizamos, quando crianças, nem depois, enquanto adultos, por falta de amadurecimento, ora por falta de tempo na nossa parca cronologia. O amadurecimento da alma contém sabedoria, enquanto o do corpo contém rugas, lesões, pontos negros e displasias, o da alma tem caminhos e interceções, cruzamentos e interrupções, distanciamentos e aproximações, os binómios de primeira e de segunda importância, os juízos de primeira e segunda avaliação, as prioridades de primeira e segunda categoria. A verborreia não é sabedoria, mas entre linhas podes ler o que não foi escrito e no amor que te tenho podes sentir a minha agonia. No que não é nosso, podemos encontrar poesia. E poesia é sabedoria. Ancestral, infantil, profética, dialética e patética, porém, sabedoria. E no humor e na arte, seja de rua ou de museu, particular ou coletiva existe sabedoria. Mas que é a sabedoria sem a alta motivação do amor ao outro? E tu, meu amor maior, Deus cedo te pôs no meu caminho para que eu, privilegiada sem saber, pudesse sentir o que era ser inteira e ser sábia. E a minha estupidez misturada com a minha ignorância e com a minha impulsividade afastou-me de ti, para sempre e sempre será sempre tempo a mais sem amor. E quem sou eu sem bússola, sem inspiração, sem estrela e sem motivação para a vida, se tu és a minha vida, se perdi a minha vida há vinte e cinco anos atrás? A sabedoria tardiamente veio, injetar-me de saudade, de luz, de motivação de verdade, de agonia, de eterna melancolia, de saudades de saudades de saudades...
E aprendi tanto contigo e o outro tanto por tua causa. Viver sem amor é dar pérolas a porcos. E o Deus em mim diz que as minhas pérolas têm o teu nome, a cor dos teus olhos, o sabor da tua boca, a medida dos teus braços à volta do meu corpo, a música bela que compões e que sai diretamente dos teus dedos aos meus ouvidos e me mantém feliz. A sabedoria é antiga e eu reciclo-a e digo-te, sem ti sou uma concha vazia, de quem o mar se esqueceu!

E o coletivo interessa-me, o bem-estar do todo sempre me preocupou.
É com sabedoria e muito amor que te chamo e que te clamo e que me comovo por saber que tenho muito a dar de mim ao todo, ao coletivo, mas que sem ti não me movo, não corro, não vou, não sou, não quero, não espero mais nada! E se o que viver até partir for este amor grande, pois que seja, que enlouqueça completamente, que perca qualquer noção do que esperam de mim, enquanto te espero eu aqui. E cubro-me com a almofada na cara, e choro e me comovo e te chamo e te amo e me morro sem ti. Meu querido amor, sem ti, o coletivo que se dane. És o meu astro rei, o meu imperador, o meu mago feiticeiro, o meu cientista Pardal, sempre a criar novas máquinas e alarmes e circuitos marados e composições musicais, tu és tudo e eu sou a sombra do que fui ao teu lado, mas vou contigo onde fores, estarei onde estiveres, não importa o que digam e pensem destas declarações de amor, meu amor, o que me importa és tu e a luz de Deus que projetaste em mim que se chama AMOR.

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