Pablo Neruda, Pablo Milanés

 


El amor de mi vida



Guardo em mim todos os sonhos do mundo

dizia Pessoa e eu acrescento

que guardo em mim tudo de ti, do mundo

de outrora, longínquo tempo do nós

e guardo amorosamente o teu sorriso,

o teu olhar intenso e perspicaz,

as tuas belas mãos e nobres

que aprenderam a desconstruir

(primeiro um rádio, que te saiu caro)

depois outros e a própria vida

guardo em mim a tua virilidade e desejo

e a tua ternura, o teu doce amor

os teus braços que eram amarras

e chamavas-me tu lapa,

a Almerinda também,

deixe-o ir, deixe-o ir

mas eu não cumpria o que me pediam

e sim o que o meu coração exigia

e tu sempre foste o sol

e eu a tua companheira de jornada

de mão dada

de braços dados, caminhando ao lado

nunca à frente ou atrás

e assim te tornaste eterno de mim,

em mim, para mim.

És o mais belo dos homens,

tens a mais bela das almas,

nenhum outro ser se te pode igualar!

Como não te guardar se te tornaste 

perpétuo e imperador de mim!

Sonho-te hoje e sempre

e no meu peito, dentro de mim

também tu és meu, fora da posse

mas tão dentro do amor mais puro e belo

que algum dia almejei

e Deus continua a garantir-me

que também eu estou dentro de ti,

caminho os teus passos,

entendo as tuas ilusões,

o teu orgulho e o teu amor próprio.

Faço parte de ti até ao âmago.

E sinto-me cada vez mais Almerinda contigo

cada vez mais protetora do ser puro que és

da magnificência e nobreza que carregas

para todo o lado, de tão majestoso és!


Ah, não há pesares no amor

nem distância nem nada

ouviste? nada se interpõe entre o meu amor 

e o teu coração!

Este amor não é só da terra

é das estrelas de onde viemos

é divino em toda a sua graça

indestrutível, sim, indestrutível

não é por amares outras, desejares outras

que o amor se dissolve.

Outro poeta dizia que aos amores pequenos

o tempo apaga

aos outros, a este outro de mim para ti

aumenta, acrescenta e incendeia.

Sou assim, a sonhadora e feliz portadora

deste astro que me queima por dentro

que me transborda em oceanos

incompreensíveis para a humanidade

para o aqui e agora, para a matéria.

O amor que te tenho é imaterial,

colossal, protetor e sólido como a rocha 

do mar, essa rocha a que a Almerinda, surpresa

admirava, como esse oceano atlântico que ela

não ousava sequer sonhar

e corria, temendo que o mar a fosse buscar.

O meu amor tem um jeito que é só seu - meu

e me comove, me inspira e motiva

e dissolve qualquer dor, qualquer modus operandi

qualquer circunstância adversa.

Como me apegar a coisas materiais, como ciúme, tortura

se estás em mim, desde que me deito até me erguer? 

Não te possuo, apenas e muito te amo!

Não és tu o portador deste amor,

porque tu és a inspiração, o fogo, onde me acalento

onde descanso, onde vivo e onde morro!


Pablo Neruda no seu poema Sempre expressava

o mesmo amor que te tenho

e aqui o deixo, deixo-te dois Pablos

o terceiro está no céu que era o nome carinhoso

que a minha mãe chamava ao seu amor, Pablo

deixo-te com o teu amor e faço questão de te cantar no poema dele


 

Sempre

Ao contrário de ti
não tenho ciúmes.

Vem com um homem
às costas,
vem com cem homens nos teus cabelos,
vem com mil homens entre os seios e os pés,
vem como um rio
cheio de afogados
que encontra o mar furioso,
a espuma eterna, o tempo.

Trá-los todos
até onde te espero:
estaremos sempre sozinhos,
estaremos sempre tu e eu
sozinhos na terra
para começar a vida.


Comentários

Mensagens populares