Queria de ti um país...

Onde me pudesse identificar.
Em dia de aniversário de Antero de Quental (170ª aniversário), a poesia de Mário de Cesariny e a lembrança de George Orwell, quer através de 1984, quer através do Triunfo dos Porcos.





Queria de ti um país onde pudesse sentir que a educação e o ensino são mais do que particularidades e menos do que opções de pastas onde tudo se pode subtrair. Queria de ti um país de valores e princípios, onde os cidadãos pudessem ver na justiça uma forma de controlo e reparação que penaliza os que das leis dos homens justos se afastam e, a pendência à direita da balança vai enaltecendo ladrões de colarinho branco e sujeitando os miseráveis a custos e obrigações que, à partida os levaram lá, frisando todos os dias mais e mais os paraísos fiscais de alguns, garantindo a isenção de punição aos mais espertos. Queria de ti um país onde emigrar e imigrar não fossem dois pesos e duas medidas, mas sobretudo, em que emigrar não fosse a política em vigor, a resposta incentivada pelo governo deste país, que tenta a ferro e fogo, desapropriar a dignidade e o orgulho, a determinação e a vontade de continuar a fazer parte da história na restauração dos valores perdidos, valores esses substituídos pelo neoliberalismo e tecnocracia.
Queria de ti um país, onde, por detrás de cada número eleitoral, se adivinhasse um cidadão ou uma estrutura familiar, e a sua importância não fosse tida em conta apenas em atos eleitorais.






Queria de ti um país onde os consensos pudessem ter lugar e as divergências não coubessem na palavra quotidiano. A democracia só é exercida em plenitude quando não há receio de algozes e nem ganância do superpoder. Queria de ti um país onde a língua acordada e viva não fosse (mal) usada com tanto desdém e arrogância, para mostrar feitos, para crescer vaidades desvalidas. O (des)acordo ortográfico deveria ser tema de debate com linguistas e usuários da língua, com legisladores e, em democracia assim seria.
Queria de ti um país onde os condicionalismos históricos fossem substituídos por incondicionais valores mais altos que singrassem, não do fenómeno das massas destituída de reflexão, não do individualismo que só encontra auge e lugar ao poder usurpado mas, antes a, um espírito critico dos que governam e que não veem futuro num país onde o povo não possa se exprimir nem se encontre de forma alguma representado como burro de carga, só servindo para pagar o despesismo do governo e não se identificando nas suas políticas internas, mais corretamente definidas como represálias. O jugo vai pesado. O burro vai cansado. Ou larga o jugo e se endireita ou se deixa abater pelo peso que carrega.





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