Al Qabri Ramos

 



Do peso da ortografia na expectativa



Nunca, palavra brava

que arranca possibilidades 

à vida, árvores à terra

devastando céu e mar.

Pode retirar-se afinal,

tal como sempre,

que sempre é muito tempo

é brutal, secular e omnipotente

vocabulário pertencente

apenas ao mundo dos deuses

que esses podiam aplainar doçuras

e converter paraísos ao plano infernal


E se substituíssemos por infinito

etéreo, efémero, virtual, intangível,

lá onde o amor mora

na eternidade dos sentidos

e se demora

nas carícias e beijos de boca colada

e nos permitíssemos amor

sentidos que afloram entre verbos

que dificilmente utilizam pretéritos

aflitos e evitam futuros entornados,

colar pele na pele, seio na coxa

e inventar outros ais não catalogados?


Dispensemos tudo e nada

que grude nós

no umbigo, nariz, duvido

a sós, suspiro

sem eternidades temporais

relógios dispensados

palavras que se convertem em dramas

existenciais

restamos ainda os dois.

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