Laura de Jesus
Seis de copas, seis de ouros
e uma estrela cadente
Ando com o baralho
dentro,
dentro de mim
gargalho
na esperança
de acordar
- acordar e deixar-te
no sonho,
que bem podia ser do seis de copas
do seis de paus,
do seis de ouros
ao quatro!
Só no retrato
do nosso passado!
baralhas-me,
embaralho-me
gastei o 4 de espadas
dormindo
esperando, chorando
e tendo pena de mim própria.
A torre veio há 2 anos
bendita torre
para me acordar da masmorra
em que me pus.
Ah, dependurada por ti
pendurada por ele
e o julgamento
ditará o fim do tormento
mas antes o cinco de espadas
o sete de espadas desgastado
mutilado, mutilada
multidão que esfrega as mãos
contente
do meu sofrimento.
e o dois de paus promete
mas nunca chega
Olhar o horizonte
desenhando
o
monte Sião,
desistindo do que és,
partindo para outros
lugares,
hemisférios,
mistérios de Deus,
dos anjos, dos arcanjos
e dos meus ancestrais
(voltar a ti não mais)
e tantos outros lugares
que são como os lugares
mal situados do Daniel Faria
e do Pedro Mexia
E eles
estranhos em mim
sabem melhor do que eu
que é o seis de copas a estrela
o seis de ouros a reciprocidade
e porque não dizê-lo
pois tem mensagem de anjos
o seis de paus triunfante
que me traga benesses
que me leve pra longe
do seis de copas
que já não vem.
Cancelada a missão
abortada por livres-arbítrios
que não controlo
Enquanto choro
sinto o consolo
de ter almas que me aguardam
e por elas mantenho
o sacrifício,
o espírito de missão
Eu não!
Não cancelo compromissos
Não aceito as imposições de outros
o meu destino é o carro,
esse sete
depois do seis
da minha dor e da minha espera
da minha espada
que só controla a si mesma
rainha de copas e paus, rainha de ouros e espadas
Sacerdotisa e imperatriz
E até imperador de mim!
Sem áries,
sem cáries
sem cancer
sem gémeos,
sem leão
mas com força
O carro é o arcano
que trará o dois em um
eu no mundo
eles comigo
e tu cumprindo calendários
novos
dois em um
que me traga o esquecimento
do teu nome,
do teu amor
que foi sempre
a estrela
jardim, árvore,
unguento,
Sol, primavera
penso rápido
quimera
o meu alento.
Vou partir
num golpe
de asa
de casa
para dentro,
ermita,
sedento, e
depois escrever-te-ei
de Telavive, meu amor
do Brasil
que vou a Santos
e a Floripa,
Sem Santos, mas com santos
de outro naipe.
E o futuro tem
o teu signo
a tua paz
e a tua abertura
para a construção de
um mundo melhor
-Mas que mundo
haverá melhor,
onde tu não estejas?
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