Assim na terra como no céu
O sol queima e os animais procuram a sombra e são muitas, investi forte em árvores. Os gatos, depois do pequeno-almoço, correm, brincalhões, entre os girassóis e os amores-perfeitos, perto das cinzas da tia Carmen, no jardim defronte da casa, os cães refugiam-se, ora na churrasqueira, ora na casa velha, procurando dormitar. Os pássaros variam e brincam com os gatos. A erva cresce, a minha mãe, no seu chapéu rosa, descansa na cadeira de baloiço e eu tento perceber de que mais é feita a vida.
A música é o grande bastião da minha vida. Acompanha-me desde sempre e é a minha psicóloga. Os psicólogos também necessitam de psicólogo. Especialmente, se não tiverem amigos. Eu não tenho amigos. Não fico triste, não mais. Prefiro não ter amigos. Toda a vida andei enganada. Aos "amigos" beneficiei muito, entregando o meu tempo, doando tudo, desde bens materiais aos imateriais. Garanto-vos que nenhum deles mereceu. Exceto os que já partiram e que honro com a minha saudade e amor e que conhecem bem a Cristina, por dentro, por fora, enfim, do meu caráter muitos gostam de atestar e poucos podem falar. As lições recentes passam por aqui. Nunca confiar nos que se aproximam, nos que dizem ser nossos amigos. No sangue, parentesco. Olho aberto. Não aceito menos do que dou. Não procuro migalhas. E continuo a amar. Intensamente. Platonicamente. E sim, cada dia que passa, mais amor me tenho. Nunca conheci ninguém igual a mim. Sei que não há. E não me vendo, não me oculto e nada tenho a esconder. Coluna vertebral hirta, caráter hirto e um coração segmentado, porém, meigo, magoado, porém, fantástico. Não me comovem mais os falsos, os oportunistas, os ladrões, os vigaristas, os espertos, a massa, entendo agora que não posso mudar ninguém para melhor. O Karma faz isso melhor do que eu. E não vivo de vinganças. Desejo a todos os meus inimigos muita saúde, prosperidade e distância, essa a parte desejada. Essa é toda a vingança, distância e felicidade. Acredito que saí parecida com o meu pai que, tendo partido aos trinta anos, praticou toda a vida de altruísmo e generosidade. Atribuiu muitas pensões, subsídios a gente que necessitava, ajudou a própria família, pais e irmãos e filhos enquanto foi vivo. O bisavô, soube que tendo trabalhado uma vida toda na CP, ajudando a construir e a consolidar os caminhos de ferro portugueses, também foi homenageado em vida, tendo recebido comendas por altruísmo. O bisavô foi comendador, não como o Joe Berardo, maior que todos os Berardo. O bisavô Francisco foi o rei da generosidade e o meu pai honrou o nome que recebeu. Eu também honro. Mas agora de uma outra perspetiva, fria, calculada, pensada. Não mais dar por dar, sem olhar a quem. Reciprocidade. Aprendi esta difícil lição de que nem todos são merecedores. Não são mesmo. Por todo o bem que fiz, receberei agora a recompensa. E nunca é tarde para se aprender, para se abrir os olhos, para ganhar sabedoria. E eu continuo a ser uma aluna entusiasmada pela vida, apaixonada pela natureza e pelas imensas capacidades do ser humano. Nenhum ser humano, até hoje, conseguiu matar o que trago de melhor. E a música, a par com o querer que todos estejam bem, é o grande estandarte na minha vida. E hoje dou bem conta de quão grande e honrada sou. Acredito que alguém que não se valoriza a si mesmo pode atrair gente má, gente ignorante, massa disforme. E misturada no meio dessa massa, acreditar que "aquilo" é tudo o que merece. Não podemos acompanhar gente que não possui as mesmas virtudes ou valores. E não somos todos iguais. Agora, valorizo-me. Sou um ser humano virtuoso. Não aceito caminhar mais com a podridão humana.
E enquanto a minha mente vagueia por entre as ervas e flores em desalinho, procurando os gatos, me dou conta que sempre ambicionei isto. Só isto. Mas não vim para isto. Para eliminar ou erradicar a competitividade. Vim para ser cooperativa. Vim para ser feliz como, quando, onde, porque quiser. Para empreender e liderar. Para crescer e fazer crescer os outros, nunca me prejudicando. E vejo um formigueiro em preâmbulos, contornando obstáculos e até nesses exercícios simples de observação, podemos constatar sobre a humanidade. Sobre a integridade, sobre crescimento e obstinação. A vida é simples. Assim na terra, como no céu.
E esta mente agitada procura sanar-se na natureza e eu garanto-vos que a vida é preciosa, fantástica e divinamente guiada. Cheia de estrofes e versos de amor, de fás sustenidos e semibreves, de silêncios preenchidos e de sol, mar, lua, serra, céu e mais amor.
Agora, enquanto alinhavo as ideias partilhadas, penso que estou limitada noutras secções da minha vida. A justiça que não depende de mim. E a alimentação que estou proibida de fazer. Não posso comer laranja, nem kiwi, nem ananás. Nem doces e nem salgados, nem fritos e nem estufados, nem carnes e nem peixes, nem ovos e nem leite, nem queijo e nem iogurtes, nem águas das pedras nem águas normais, apenas água de fastio. E posto isto, vou dedicar-me a criar um prato vegetariano para o almoço. A criatividade nasceu de boa saúde em mim, pena que a gordura da cozinha não. Deixo-vos na vossa vida e vou à minha.
Faustino Gomes dos Santos, amor platónico da minha vida, expressão mais alta de mim, beijo-te o céu da boca. Quero-te hoje e sempre. Recebe o amor enorme e abençoado que te tenho. Um abraço apertado. Saudades tuas, meu querido mestre.
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