Sítio dos Mochos
É assim que chamo ao meu Sítio, desde sempre. Em primeiro lugar, adoro animais noctívagos, identifico-me profundamente com eles, adoro estudar e trabalhar de noite, quando todos descansam. Sempre ouvi dizer que os mochos eram animais anunciadores de maus agoiros. Mentira. Nunca foram. São símbolo de sabedoria e ela ganha-se com a vida, com os livros, com o conhecimento, não só o académico, mas aquele que chega até nós e nos transforma. Os mais próximos conheciam-me como colecionadora de mochos e corujas, mas desconhecem porque comecei a colecionar estas miniaturas animais.
Recebi do meu pai esse presente. Um pendente de um mocho que era o símbolo do professor. E o meu querido pai partiu, ainda tinha eu sete anos. Nunca deixei de o procurar e de o encontrar e cada mocho que comprei, cada mocho que ganhei me leva a ele, a esse grande senhor que felizmente me passou o seu adn e ainda que ausente, está mais presente em mim do que qualquer outra pessoa na minha vida. Honro o meu pai a cada segundo da minha vida, faço questão de lhe agradecer toda a paciência que ele me dá. Nunca me abandonou. Obviamente que amo a minha mãe, mas é, sobretudo ao meu pai, de quem tanto sinto falta que honro, pois ele me deixou o legado do conhecimento, de querer expandir o mesmo, de ajudar outros e jamais o esquecerei e acreditem ou não, aos que me querem mal, não me conseguem fazer pior porque ele me mostra, me ensina, continua a guiar-me os passos e eu continuo a ouvi-lo dizer, na sua voz meiga, minha cristina minha querida filha. E sou, sou dele, serei sempre a sombra dele e orgulho-me da minha criação, dos meus avós, dos meus bisavós, nunca negarei essa cepa. Eu sou essa, uma verdadeira Guedes, mesmo quando durmo, mesmo quando choro, sou inteira dessa árvore que nunca saberei renegar.
A GNR, juntamente com a veterinária do município acabaram de sair daqui do Sítio, podendo confirmar que aqui, animal nenhum é maltratado e subnutrido. Não me canso dos meus animais, canso-me das pessoas. Não me cansam os afagos dos meus cães e gatos, molestam-me os que querem saber da minha vida, que me desejam o mal, a quem eu só fiz bem e que eu por força das circunstâncias, agora ignoro. Coloco tapumes às feias carantonhas, deixei de ser educada. Não há bom dia e nem boa tarde, não há nada, exceto silêncio e profunda tristeza. Hoje é o dia em que poucos se atrevem a olhar-me, a provocar-me, a tentar tirar-me do sério. Não olho para as pessoas. São sombras disformes que não despertam sequer o meu interesse. E quando falo com elas, mais uma vez, por força das circunstâncias, olho-as nos olhos e faço com que me olhem bem a mim. Não se esqueçam que esta que já foi a miss simpatia, de simpática nada mais tem. Nada! Só os animais têm de mim o melhor. E não se trata de generalizar a maldade, trata-se de estudar o género humano que tanto tem a aprender com os animais, sejam os domésticos sejam os selvagens. De mim, tenham receio. Não tenho sarna, mas a vacina antirrábica nunca me foi pedida. Eu tenho medo de mim, nos dias que correm. Por isso, caros humanos, as lições aprendem-se e só continua a julgar-me quem não me conhece e nem nunca mais vai ter esse privilégio. Aprendi a duras penas que quem vê caras, não vê corações. Muitas traições, muito oportunismo, escondidos em caras bonitas, fingindo humanidade.
Pai, sabes bem quem sou, conheces bem demais este coração. Hoje, duro, frio, gélido. Não há mais doçura. A falta de reciprocidade custou-me muitas deceções, muita tristeza. Choro por gente sem coração. Doei o meu tempo e o meu trabalho nunca pago a gente sem escrúpulos. Assim me fizeram, assim terão que me aguentar. E a justiça, acreditem ou não, não vai tardar e não me venham com sapatadinhas nas costas que não vos conheço. Para mim, vocês estão abaixo de crédito. E no tribunal vos sentarei, como testemunhas, não da vossa falta de personalidade, sempre fui correta convosco, mas da minha humanidade. As vossas traições não poderão mais me doer. Vocês são agora história, da mais feia que eu tive que viver, para ganhar esta pedra no peito. A vós devo tudo isto. Quanto ao verme maior, também ele prestará contas. Ninguém sai ileso- quantos seres humanos vítimas das mais inóspitas injustiças! Creiam-me, tudo o que me haveis feito, me pagareis, nem que seja através da lei dos homens. E essa virá e não importa o tempo que demore. Saberei esperar. E fechar a mais feia história de injustiça praticada com uma alma que tudo vos perdoa. Por ora, choro eu. Por ora, eu sou a injustiçada, mas não esquecereis o meu nome e aprendereis a dar valor à verdade. Ainda que ameis as aparências.
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