As Portas que Abril Abriu & As portas que este Abril está a fechar no mundo



Era ainda uma criança, mas já era a liberdade.
Abril na voz de Ary dos Santos que nos há-de estar a ver, com a voz que lhe tremia na comoção do que estava a viver, há-de tremer agora, com as injustiças que vê em outras latitudes, a diferença de Abril, a diferença de valores, a aquisição de padrões dignos de coisa nenhuma. Somos gente, esta terra foi desenhada para humanos conscientes e não para pessoas robotizadas. Quero o mundo de novo, o mundo onde para se ter alguma coisa, precisava ser desejado, valorizado, apreciado e não recebido como facilidade. Onde as crianças corriam pelos montes e quintais, sem se preocuparem em ser adultos, em ser demasiado adultos, em produzir um futuro hipotecado. Estou cansada disto tudo, cansada de ver o que o poder destrói em termos de valores humanos. Não ergam muros aos homens e sim às armas! Não contribuam para a guerra, construam a paz e as infraestruturas necessárias. Somos gente e amanhã somos a sombra somente. E quem fica verá tudo destruído, o que fizeram os nossos bisavós, avós, pais e nós nada! Nós sabemos o que é a enxada e substituímo-la pelo acessório, pelo prazer imediato, pelo aumento da inveja, pela mutilação das imagens da paz como se a guerra fosse impossível de atingir as nossas coordenadas, como se em Gaza fosse um filme pré-histórico e não houvesse crianças com sangue e sonhos, como aqui, como se pudéssemos escolher os humanos pela linhagem que desenhamos, dos humanos de primeira, dos humanos de segunda, de terceira, tudo enganos, somos todos humanos, de ambos os lados da trincheira, das fronteiras que montamos para nos configurarmos nos abençoados por Deus, sem lágrimas, ocos, vazios, inúteis e sem postura política que nos faça sentir que lutamos pelos outros! Quem são os outros, senão nós, do outro lado da fronteira, dessa barreira que vejo erguer, sempre a dar palco às armas, à guerra, sempre a colocar entre nós e a paz os valores da moeda, nós não somos brinquedos, não somos pedras com pernas, vive entre nós a capacidade de mudarmos o sistema, de alterarmos o rumo deste dilema de viver num planeta cada vez mais egoísta e centrado! Nós fazemos aos outros o que não gostaríamos que nos fizessem a nós! Os vulneráveis dos cenários de guerra não estão a dramatizar, aquilo não é um palco de takes, de luzes, de repetição de cenas, são obuses, são bombas, são porta-aviões de guerra, é a guerra aqui ao lado, em todo o lado a estragar-nos o esquema de viver sem pensar no outro, de viver sem pensar em nada! Os vulneráveis somos todos nós, onde houver um choro, a fome, o lodo da destruição, de não ter nem chão onde deitar a cabeça e pedir, mendigar que a morte venha, que lhes é merecida, porque o mundo se esqueceu deles, dos grisalhos e das crianças, das pontes humanas onde nos desenhamos, no esperma e nos óvulos, nos ventres que pedem socorro e que teimamos em esquecer! É preciso dizer não a quem constrói muros ao invés de pontes. Ergam muros à corrupção, ergam muros ao delírio de grandeza dos monopólios e dos esquemas que nos roubam os sonhos! Ocupemos as estradas, façamos do nosso silêncio a oposição contra as tomadas radicais dos governos! Os migrantes não são ilegais, são humanos como nós, iguais, e quando uma ameaça surgir nos vossos céus, pra onde haveis de correr, senão para terras onde possais proteger os vossos filhos?
Não ergam muros e não façam filhos antes de lhes poder oferecer a paz que eles merecem! Ergam pontes para os humanos, ergam muros para os robots!

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