Cristina Guedes & a fábula para adultos





Da Lagartixa que chegou a crocodilo sem Haldol
Uma fábula para a Miquelina

Ele vinha armado em sedutor, 
como se fosse a última bolacha 
do pacote. Nunca foi. Gostei dele 
pela fé que demonstrava 
e que hoje sei que estava ligado
à parte errada da vida. 
E pelo seu humor e inteligência;

Interregno sarcástico:
(quão asno e INORME pôde comigo ser, 
que fui sempre sua amiga?)
É uma ferida com crosta
a qual já não doi. Ou doi?

Não, a inteligência emocional, 
sempre demonstrou não possuir. 
Eu cega, eu emotiva, eu precisava 
ver a fé, porque era isso que eu desejava.  
Procurando Deus nos lugares incertos. 

Ao fim de algum tempo,
ele foi se mostrando tal como era. 
Foi mostrando o seu fel. 
Ela foi registando no bloco de notas mental. 

Às vezes desenhava no sonho,
queria que a rudeza e vileza dele  
fosse produto da sua imaginação,
que não existisse de verdade, 
ela desacreditava e rasurava 
todas as notas e voltava ao início.
 
Ele tinha razão. Ela era idiota, imbecil 
e inútil. Por isso, por ela ser tudo isso, 
acrescido dessa cegueira que lhe era útil 
só a ele, ela continuava a acreditar.

A vida veio a demonstrar-lhe que 
estava certa, que o que estava errado,
afinal, era não confiar na sua intuição.  

E nessa altura, quando a violência verbal 
se tinha tornado mais costumeira 
do que o afeto, ela, por força e decreto, 
deu o corte final no seu coração, 
quando descobriu a traição.

Não lhe disse nada sobre isso,
apenas fez de conta que não 
estava a ser enganada.
Ele e as suas pretendentes
e ela simpática com todas elas.

Porém, contudo, e, no entanto,
pediu-se a si mesma, o corte real via 
coração. O coração dela ainda batia.

Ele bateu-lhe, tentando esganá-la, 
calá-la, lascivo e cruel, desonesto e infiel 
de acordo com a sua própria natureza, 
doente, psicótico, autista e verdadeiro 
artista do mal!

A sua progenitora é que estava certa
ela já a havia avisado:
- Você pensa que conhece o lagartixa
que nunca chega a crocodilo",
 engana-se, ele é uma mentira, uma fraude!
E era, a sua progenitora 
conhecia o bicho que tinha criado.

E afinal, ela avaliou muito mal, 
perante todos os sinais, 
a pessoa em questão. O tempo 
deu-lhe razão.
 
E não satisfeito, voltou a bater-lhe, 
não só com as mãos, 
mas com os sentimentos que nutria 
por ela. 

Ele nunca houvera gostado dela. 
E sim da sua idiotice e empatia.
Hoje ela percebia.

Ah, se pudesse voltar atrás, 
ele nunca seria seu algoz, 
não passaria de alguém que 
ficou para trás.
 
Assim foi. Ele ficou para trás. 
Nunca teve sensibilidade e nem 
sex'appeal, nem carinho, nem mel. 
Era tão feio quanto mau, um corpo 
medonho a debater-se numa 
inteligência cruel 

Para mim, era como um professor e
foi ficando por eu ser generosa, 
por ser boa pessoa, pela minha empatia, 
por ser mais do que merecia. Hoje não mais. 
O corte já foi feito, mas adivinha?! 

Ainda nem começou a batalha crucial,
da recuperação do bem contra o mal.


O oportunismo fica-te tão bem, Ezequiel




Comentários

Mensagens populares