A Ponte Entre Céu e Terra Antahkarana
A Ponte Entre Céu e TerraAntahkarana: a Ligação DinâmicaEntre o Eu Mortal e a Alma Imortal
Duas figuras humanas caminhavam havia horas pela paisagem árida do deserto mexicano. O velho instrutor, Dom Juan, parava de vez em quando para rir às gargalhadas do jeito confuso do aprendiz. Carlos Castaneda, desorientado, lutava contra o sentimento de humilhação pessoal. Ele não sabia como comportar-se diante daquele mestre surpreendente que considerava a morte como conselheira, conversava com o vento e ensinava que a vida deve ser vivida minuto a minuto, se não quisermos que 90 ou 100 anos deslizem num instante e inutilmente.
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Quando a confusão do aprendiz chegou ao auge, a verdadeira lição começou. O velho imprevisível disse: “Estamos tratando de perder a importância própria. Enquanto você achar que você é a coisa mais importante do mundo, não pode apreciar realmente o universo em volta de si.” Em seguida, Dom Juan ajoelhou-se no chão diante de uma pequena planta e disse que conversaria com ela. Acariciou-a e falou a ela com ternura em mais de um idioma. Depois ensinou Castaneda a conversar com as plantas do deserto “até perder todo seu sentido de importância pessoal”.1 Qual era a intenção de Dom Juan? Ele levou o eu inferior do seu aprendiz Castaneda a uma crise, com o objetivo definido de que uma “segunda atenção” pudesse despertar, e o eu superior passasse a organizar a consciência do discípulo. O o o O Todas as religiões ensinam que o ser humano é dual: uma parte dele é animal e morre; outra parte é divina e imortal. Segundo a tradição esotérica, o caminho da sabedoria consiste exatamente em elevar o foco da consciência dos níveis inferiores de vibração para os níveis superiores. Isso se dá gradualmente. Uma só vida não basta, e a alma imortal reencarna tantas vezes quantas necessárias para alcançar a meta. Ganhando experiência, aos poucos ela aprende a influenciar melhor a sua personalidade externa e física. No início, isso parece impossível. Muito mais tarde, quando o eu imortal adquire finalmente total domínio sobre a natureza inferior, ele fica livre do reino humano. Cristo, Buda e outros seres que atingiram a perfeição humana constituem, na verdade, pioneiros e precursores. Mostram o caminho para o conjunto das almas da nossa humanidade. Mesmo em nosso estágio atual, em que não faltam limitações, já é possível ouvir a “voz do silêncio”. Calando as preocupações de curto prazo consigo mesmo, o cidadão pode escutar a voz de sua consciência e perceber que aquilo que ele chama de “anjo da guarda” pessoal é, sobretudo, mais um nome para seu “eu superior”, também conhecido como mônada e AtmaBuddhi. Assim, o significado profundo da expressão “seguir o caminho de Cristo” implica seguir o caminho do auto-aperfeiçoamento. Não basta uma mera adoração devocional à imagem de um Deus humano. A tarefa é promover uma revolução pessoal em que aprendemos a olhar a vida e atuar nela do ponto de vista da alma imortal, e não mais da vida física, com suas preguiças e comodidades, seus medos e suas ambições. Entre o eu imortal e a personalidade externa, o foco médio da consciência humana, que chamamos de “eu”, eleva-se lentamente à medida que a alma ganha sabedoria e experiência. Mas saber disso não é suficiente. O decisivo é o que se faz a partir do conhecimento desse fato. A elevação do foco de consciência é uma tarefa concreta que coloca problemas técnicos e questões práticas. 1 Viagem a Ixtlán, Carlos Castaneda. Ed. Record, 14ª edição, 254 pp. Ver pp. 33 e seguintes, especialmente p. 37. The Aquarian Theosophist www.FilosofiaEsoterica.com - www.CarlosCardosoAveline.com 3 O mapa completo da consciência humana inclui sete grandes princípios ou níveis. Em cada um deles, o “eu” organizador da consciência possui características diferentes. A seguir, mantenho os nomes sânscritos porque eles têm uma vibração própria e são mantras. Vale a pena fixar bem essas palavras. O corpo físico, primeiro princípio, é feito de carne e osso. Seu nome é Sthula-sharira. O segundo princípio, Prana, é a vitalidade. O terceiro princípio é Linga-sharira, e ele detém os arquétipos e as estruturas cármicas sutis dentro das quais flui a vitalidade. A carga genética herdada dos nossos pais é parte das funções do Linga-sharira. Mas ele é muito mais que isso. Esse princípio é chamado de “duplo astral” por Helena Blavatsky.2 A acupuntura, a homeopatia e outras formas de medicina sutil trabalham com o segundo e o terceiro princípios, isto é, a vitalidade, Prana, e os arquétipos energéticos, Lingasharira. O quarto princípio, Kama, é o centro das emoções animais, do medo, do amor com apego, do sentimento de rejeição, da paixão, da busca de segurança. Esses quatro princípios básicos formam o eu mortal. No momento da morte, os três primeiros se dissolvem completamente, e o quarto princípio vai para o primeiro estágio do pós-morte, Kama-loka. O quinto princípio é Manas, a mente, e é essencialmente dual. Ora se volta para baixo e se coloca a serviço dos sentimentos e da vitalidade animal (mesmo usando um vocabulário culto e até um discurso religioso), ora se volta para cima, é iluminado pela alma imortal e busca apenas a verdade, comporta-se com altruísmo e reflete a sabedoria eterna. A parte concreta do quinto princípio – que se pode chamar de Kama-manas – tem um tipo de raciocínio que gira em torno das preocupações pessoais, opiniões, medos e esperanças. A parte superior do quinto princípio é a mente abstrata, a inteligência espiritual que vê a verdade sem distorções ou egocentrismo. O sexto princípio, Buddhi, é o centro da alma imortal, a sede da intuição espiritual e da compaixão universal. Para a mente iluminada por Buddhi, o mundo já não é um desfile de fatos concretos, sensações, emoções e pensamentos. A intuição superior mergulha diretamente na realidade primordial, porque é feita da mesma realidade essencial que está presente em todas as coisas aparentemente diversas. É o princípio búdico da compaixão e da solidariedade que dá sentido e significado, em última instância, às nossas pobres existências pessoais. O sétimo princípio é Atma, o todo, a realidade suprema misteriosamente presente em nós. Ele é feito com a mesma matéria-prima da lei que mantém as galáxias em movimento, e é, ao mesmo tempo, a fonte última da nossa vontade de agir corretamente em cada situação da nossa existência pessoal. Atma não é humano. É uma fagulha do Absoluto e do Infinito. Atma nos conecta com a essência do cosmo inteiro. Os sete princípios se dividem em dois grupos. Acima, a tríade imortal, formada por Atma, Buddhi e Manas. Abaixo, o quaternário mortal formado por Sthula-sharira, Prana, Lingasharira e Kama. A ligação dinâmica entre esses dois setores da nossa estrutura oculta é chamada de Antakharana. Veja a ilustração. 2 A Chave Para a Teosofia, de Helena P. Blavatsky, Ed. Teosófica, ver pp. 89-97
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