Zeca Afonso & Alma Novaes

 



Vilipendiagem


Misturam se alhos com bugalhos

Os bois sempre terão nome

E será sempre avesso à democracia

Um homem não é um partido

Senão os valores que ele defende!

E quando o partido não defende 

ideais e sim interesses, o regime dá

Lugar a todo o tipo de eufemismos

Para mascarar a real razão dos atentados

Não tragam falsas questões!

Sejam homens, não ladrões.


Malgrado ópio


Um dia houveram 

homens com sentido de estado

E se puseram de lado 

para não se misturarem aos demais

Um dia os homens foram hirtos e leais

E não se serviram do Estado, 

mas serviram a nação

Esse dia continuaria a vingar,

se homens houvesse com dignidade

sentido de estado e o valor de liberdade,

que não se convertessem

em mais ratos de sacristia. 

Não ponham no mesmo cesto

Todos os vossos azedumes e frustrações

Vós ainda estais vivos

Vós ainda tendes voz

Escondeis-vos atrás das pedras

Mas para além de as atirardes

E arremessar nomes aos culpados

Ide vós fazer melhor

Que os vossos ancestrais


Plano A


Por uma democracia de representatividade direta,

que a verdadeira democracia exige

O que nenhum até agora tem a dar dos que falais, 

transparência, lucidez e sentido de dever


Plano B

E se vos parece tosco ou pós-moderno

o que vos digo, não façam disto testigo

ou dogma para continuardes na senda

dos vendilhões do templo

Ide pela democracia adentro

onde já há mais exemplos disto,

recusai-vos ao voto;

ou se sois verdadeiro devoto de

igualdade e fraternidade,

"obrigai os partidos juntos,

a governar o país, sem mais oposição"

O povo será a vossa reputação

Obrigai os deputados da democracia

a partilhar a mesma pasta, a de 

governarem a nação, juntos, eleitos

para formarem uma equipa, "a seleção"

não uma geringonça, onde 

um mande mais que os outros

mas onde todos sejam solução 

e não problema.

Se quereis uma nação 

casa bem governada

que reflita os vossos ideais, 

não arranjeis esquemas,

doutrinas ou diademas

para salvardes a vossa pele

e esquecer quem vos elege.

Rompei a malandragem

a que vos habituastes,

esquecei a religião que apregoais

e operai a diferença

sem recurso aos vossos vícios

institucionais

defendei o povo e não os vossos interesses

não sejais como os demais


E agora, oiço a banda sonora

dos homens que por ideais

ilustraram e se iludiram

lutaram e se ouviram 

cantar em uníssono,

num país laico do pós-ditadura

O povo é quem mais ordena.

dentro de ti oh nação.



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