PAZ E CALMA
São vários os aspetos a examinar na complexa relação entre teoria e prática, no caminho do autoconhecimento.
Devemos investigar, por exemplo, o que há de ilusório – do ponto de vista da filosofia esotérica – neste raciocínio repetido automaticamente por milhares e milhares de pessoas:
“Talvez a teoria segundo a qual devemos viver com calma e sabedoria, evitando o estresse, seja muito boa. Mas, na prática, a vida não funciona assim. Temos que fazer 45 coisas ao mesmo tempo e não há como evitar a ansiedade ou a agitação.”
O que há de errado com esta abordagem da questão da “vida simples”? As ilusões do argumento acima podem ser organizadas em três pontos principais.
Primeiro, a ideia dissocia a teoria da prática. A desconexão entre teoria e prática, se descrevermos a teoria como “algo bonito, mas sem utilidade prática”, mais cedo ou mais tarde leva à hipocrisia. Só por esta razão a abordagem já não poderia ser aceite, porque nesse caso a chamada “teoria” nada mais é do que uma mentira criada para enganar a si mesmo ou aos outros.
Em segundo lugar, a ideia expressa o abandono implícito até mesmo da intenção de tentar ser coerente. A pessoa se justifica antecipadamente e desiste completamente da ideia de viver a sabedoria em sua vida prática. Neste caso, ela deve ser honesta o suficiente para abandonar também a teoria, evitando cair no abismo ético da mentira sobre assuntos espirituais.
Em terceiro lugar, a afirmação de que “na prática, a teoria que propõe uma vida tranquila deve ser vista como algo meramente decorativo” simplesmente não corresponde à realidade mais básica dos factos. Esta visão superficial ignora a realidade de que a prática da calma e da sabedoria tem sido praticada desde que a humanidade existe - e ainda hoje - por milhões de indivíduos que estavam ou não comprometidos, formal ou informalmente, consciente ou inconscientemente, com o centro da paz em sua própria consciência.
A paz e a calma são antes de tudo internas e não negam o movimento externo de tudo o que vive.
(Carlos Cardoso Aveline)
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Fragmento da revista “The Aquarian Theosophist”, junho de 2022, pp. 8-9. A edição completa pode ser lida aqui: https://www.carloscardosoaveline.com/el-teosofo-acuariano-junio-de-2022/
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