Rip Nuno Júdice

 



Este poeta é o meu favorito (e Deus sabe que estimo a muitos), ocupou sempre um lugar de destaque, para mim. Não sei porquê. Nuno Júdice. Vertical.

Partiu, sinto-me triste, mas também sei que é luz e vai em missão para outro lado. É estúpido, se calhar, é incompreensível para muitos. Choro por ele e não verti uma única lágrima por uma grande parte de pessoas que vi partir. Leva um pedaço de mim, mas deixa tanto dele em cada um que queira espreitar o planeta afetivo versado e ficcionado dele. Boa marcha, Nuno Júdice. Partir é, também, ficar nos outros. E assim, fica em mim uma grande parte dele, através da sua poesia nos livros que releio. Completaria 75 anos a 29 de Abril, semelhante ao meu pai. O próximo aniversário é junto à fonte. Eu creio nisso. Sentidos pêsames aos próximos que lhe sentirão mais a falta, porque todos os outros, onde me incluo, temos os livros e as antologias. Vem aí mais um Abril severo para mim.

Até já, poeta 


Dedico a ele o poema que ele próprio teceu para o Rui Diniz. Espero que lhe agrade a minha escolha, poeta:


Poema


Ó sombra pálida que num espelho murmuras:

vem do tempo já verde de primavera

uma imagem que nenhum horizonte venera

-os lábios tecendo com ironia as palavras duras

da despedida; e, no entanto, com aristocrática

distância, deixando uma suspeita indecisa

logo dissipada pela voz rígida que me avisa

"para nunca mais! para nunca mais!"


Foi assim, meu amigo, que nos despedimos

sem verdadeiramente cumprirmos os hábitos rituais.

Nem os fumos da arte - poemas de algas e limos - 

nem o céu enevoado dos suis outonais,

nem o sonho de uma requintada nave

onde rimos e conversámos - má língua e boatos - 

me trazem a tua memória. A obscura ave

da idade navega já num álbum sem retratos.



poema colhido da sua/minha antologia de Poesia Reunida, 1967-2000, das Publicações Dom Quixote



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