Madredeus & Laura de Jesus
Prece
Que o amor seja a arma eleita
num Maio que se faça maduro
Pai nosso que estás no céu, repito, até que me oiças
Pai, oh pai, se o amor é uma arma,
se podemos derrotar a guerra com ele,
elevando o que nos ofereces ao incondicional,
Se só ele cria condições ideais para o cessar-fogo.
Se do fogo, só ele pode amansar todas as onças,
Não permitas limpezas étnicas, sem pudor, sem escrúpulos,
sem ética e pejados de rancor, que não haja exilados nem
mutilados, retiremos aos armados as espingardas
fazendo a escolha correta, a eleita por ti, assim mo dizes,
desse amor que não esgota e nem leva
ninguém ao abuso do poder e nem à bancarrota.
Volto à astrologia, ciência do céu que augura prudência
Mercúrio é a capacidade para boa vizinhança, as boas relações,
para a cortesia, que as construções de diálogo
entre nações sejam semente, que se dignifique a diplomacia!
Mercúrio em conjunção a Saturno, outra vez em Abril
na graça de 2028, já sob a égide de touro, associada ao estandarte
do perfil do fogo, contorno de sangue, a estridência de marte
o dono da guerra a clamar da odisseia que nos aguarda.
Dá-nos a tua sapiência, empresta-nos a temperança
e que as alianças se encontrem no teu julgamento,
Saberemos comemorar o fim da dor maior,
mas agora, paizinho, na chuva que vemos descer dos céus,
muita luta e muita morte e a casa 9 será sol de pouca dura
se abrirá o alívio temporário, que a cura enferma,
para o pesadelo sepulcral, nada valerá a pena!
Não há quem nos faça dormir, se dispensarmos o altruísmo
Nem alprazolam nem nada vão! não há quem nos faça descansar,
somente quem nos desperte
Faz-nos defender a concórdia.
Vá, paizinho que estás aí tão alto
sopra-nos os teus acordes, retira-nos do limbo, do breu,
uma escada perfilada sem a nebulosa de neptuno, sem véu,
faz-nos seguir rumo ao infindo do melhor que cá deixaste,
rege a tua batuta como o maestro que és!
Devolve-nos a voz para o grito, para a canção da humanidade
que a pele do nosso corpo não seja ensanguentada
não seja esventrada, fabrica o teu refrão, que nos tempere os afetos
em jeito de poema, declaração, armistício, enclave do teu coração ao nosso
num chant de contenção e sensatez,
canção cura, canção ponte, canção isenta de bestialidades,
na antevisão que faço, pura, que não há razões para alarme,
aflição nem dengue que nos extermine.
Só o exangue grito da paz
Sim, só nele se nivela a frequência, a urgência do lume que sobe
às velas da proa, no navio que em mar alto,
nos ensaboa de espuma, dizendo-nos em surdina, só uma,
só uma voz que nos guia, nos ensina, nos mostra e ilustra,
nos verbaliza da falta que o amor faz.
Sem amor, não há paz. Só o amor se faz prova
do que nos trouxe a esta vida e ainda traz.
Para quê lutar com armas de destruição maciça,
para quê a cobiça, a inveja, a malícia,
a estultícia da insensatez, se o amor nos fascina,
nos domina e ele é avesso a coisas, e é alimentado de gestos,
de carícias, de detalhes, de pequeninas coisas,
de sossego e de escolhas pelo descanso manso,
pelo sereno da tarde, pela fogueira da lenha
consumida entre o ar do nosso diálogo mudo que,
sem dizer nada, sem pronunciar qualquer palavra,
um abraço, num olhar velado diz tudo,
evitando esse absurdo da violência,
Faz descer em nós melhor que qualquer bomba ou mina
blindado como dança dos teus cabelos, oh Zeus,
entrançados no céu, a deriva à guerra, o destino da paz
e dos mutilados inocentes, tardio lenitivo
que precisados estamos. Que cresça maturidade,
que se despertem as mentes dormentes,
que rebente a semente da fraternidade,
da igualdade e liberdade, colmatando toda
e qualquer ilusão e ansiedade, que se blinde
em Maio a raiz do medo e se alcance a colheita
do Maio maduro nos atos, lá na frente,
o Verão quente da amizade,
Que nasça entre nós a palavra amigo, e dela
como vela do navio na proa, no alto mar,
se construa o amor porque pavio só se traduz em paz
quando cessem hostilidades e quando se deixa contaminar
todo o convés de amor.
Atende-me nesta prece, paizinho, deus Brahma.
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