José Barata Moura & Matza Di Lourde

 




Zoo Social


Querem ver-nos derrotados

destroçados, como paquidermes

a que retirais o marfim

e nós que somos de cortesias

de diplomacias, delicados

fazemos-vos a vontade,

rebolamos no chão e apanhamos

os amendoins e as migalhas

com que do fruto todo

vossemecês se regalam

e nós continuamos aqui, deitados

como símios enjaulados

debitando queixumes 

como se viver não fosse

a faca de dois gumes

do que quereis nos ver defender

vimos medir as balanças

vimos carpir os negrumes

cimentar alianças

mas não somos de permanecer

enquanto vos vemos bradar 

e abusar do poder

que agora já não podeis

nos humilhar mais 

do que já heis humilhado

e quem o faz a qualquer um

de nós receberá enfado

que agora vos faremos frente

no recreio romano.

Somos Diana do templo, da caça, 

das danças, do vento

e enquanto caçadoras

aqui del rei vos enganes

não tereis fundamentos 

e nem alteração aos planos

para a vida que traçamos.

Deixamos-vos congeminando

eis o que tem sido a vossa vida

dependurados na vida alheia,

Somos mel e vós urtiga

não nos podemos juntar. 

E as balanças nos serão justas

pois assim as fizemos nós

o sentido de cada um 

passa por cada qual

quanto os vossos pecados,

para além de os lamentarmos

só nos serão bizarros

se os ficarmos a admirar.

A nossa compaixão 

é requerida

noutras latitudes,

não vos somos guaridas

nem para devassos, 

nem para sabichões

nem para astutos rastejantes

Sois moitas do medonho

do que mal recordamos 

de vidas passadas. 

Acabou-se o entorno,

o feedback

o estorno, o troco, o touché

ficam aqui os restos mortais

da indiferença pelo que

degladiais. 

Merci beaucoup, 

n'as pas de quoi.


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