Matza di Lourde

 



Combinações espirituais


A combinação não era lá essas coisas.

Nunca fui forte a combinar coisas.

E pessoas não se combinam. 

Sentam-se juntas

Conversam e se não houver assunto, 

inventa-se.

A não ser que não haja 

porque haver assunto.



Sentámo-nos. Sem assunto. 

Não inventamos assunto.

Não havia o que inventar. 

Nem o frio que corria a esplanada,

nem o empregado a trazer o café, 

nem o cigarro que teimava

em queimar, levando o fumo 

a lamber-te a cara,

nem o meu sorriso satisfeito 

e nem o teu olhar amedrontado.

O assunto era o desassunto. 

Nem por isso foste embora,

nem por isso fiquei.

E depois e depois os teus olhos, 

e depois o mar que se espelhava neles,

e depois a tua forma de fugires ao meu olhar 

e depois tantos depois

estamos por aqui, ambos sem medo, 

ambos - os dois.


Tu eras vinho e eu água de rio. 

Doce, dizias.

E eras todos as crónicas 

que não li e eu uma frase solta

que por mais que negasses, 

batia-te inconveniente.

E depois, todos os "ses" que 

nos dei e todos os dias

que te não quis, ficaste lá, 

aqui, em todo o lado

aguardando a presa.

E depois? Estamos ambos presos 

no emaranhado

de dias que perdemos a conta,

num emaranhado de sentidos 

que me fazem

perder a noção dos outros e até de mim.

Não sou capaz de viver os depois sem ti.

E esta cumplicidade torna-nos 

menos avessos a nós.

Comentários

Mensagens populares