Aos 23º de Neptuno em Escorpião & El diablo anda suelto

 



Hoje morro. Para me parir outra. Hoje não. Amanhã, então. O pai deixa-me ir à francesinha, ao rei delas, e depois a vitamina que o Manel traz com ele. A sálvia e a medalha. A água benta para limpar a porcaria que os feios, porcos e maus me têm feito. Hoje fico limpa. Hoje, não. Amanhã, então. Hoje é dia de abraçar, de conversar e beber. Hoje é desculpa para renovar votos, hoje as eleições correm por minha conta. Hoje, vou passar-te ao lado. Ouvirás os meus sussurros e quem sabe as minhas gargalhadas, a trespassarem os invictos e talvez oiças os meus suspiros internos. Só tu podes ouvi-los porque te são devotados. Descerei à ribeira, mais tarde, irei ver a fogueira no cubo, compartilhar com os sem abrigo a noite e as estrelas. Hoje temerei o regresso. Fumarei frio e exalarei tragos de geada, hoje vou inteira, venho inteira, ainda que sem ti, seja só meia. Hoje vou cantar no regresso, vou gritar o avesso de te não ter. Que as saudades me matam. E depois sim. Estarei preparada para morrer. E renascer para mim. Depois só haverá eu e a minha subida ao céu. Hoje, fico viva. Amanhã, posso morrer.

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