Chicago & Laura de Jesus






If it's easy the pain, never end up the game



As palavras têm uma aparência de efemeridade
cavalgam nuvens noutras dimensões
despojam-se, regurgitam, são apenas e somente
coisas ditas, frases feitas, bem ou malditas
reverberam em espirais nas estações,
dentro dos bares, nas casas, chegam aos animais
sopradas, como se fossem autónomas,
no entanto, são sementes, que a olho nu
são cruas ou cozinhadas de sentimento
nem sempre se vê da sua fertilidade, no entanto,
no seu interior, produzem coisas e causas
unguentos e disparam corações e provocam,
às vezes chegam febris e quentes de amor
outras rígidas, severas e aflitas e 
dizes que são só palavras e estás certo,
mas, recorda, não mais as podes apagar.
Dançam, quebram paredes e fazem entulho
nos diários das meninas que sequer cresceram
Um dia virarão palavras mulher.
Podes acariciar, beijar e abraçar com elas
samarras que te aquecem ou finais quase espadas
podes edificar amores eternos ou transformá-las 
em ódio, rancores e amarras, lê-las presas a um
livro de autor ou nos jornais


Se magoamos, sem medir consequências,
se ferimos o coração ou a alma de alguém,
podemos fazê-lo num ápice, mas a palavra
dita não pode ser resgatada.
Meditas o perdão, sim, perdoa-te
não necessariamente num face a face,
de quem magoaste ou por quem foste magoado
mas surpreende-te a ti mesmo, no espelho
perdoa-te e envia esse perdão na antena
do tempo, nos fios, linhas condutoras
vislumbra e aterra o que efetivamente
desejas e acredita, não há na vida nada pior 
do que o rancor, dentro do peito 
atingindo a secura e se ancorando
leito no rio, de margens perfeito
no teu amanhã, faz cortes, corta
segmenta, liberta-te a ti do que não te serve
e cultiva o que desejas baseando o amanhã
no hoje. Hoje, és liberto. Hoje tu já és
um pássaro livre sem grilhões.

E dizem os poetas que há palavras que nos beijam
escolhe então com cuidado as que vais desfolhar
que as palavras progridem e fazem filhos 
nos demais, quais palavras que te apraz dizer
quais escolhes nascer para um dia novo,
como contraplacado ao império que cuidas
porque elas voltam e com elas multiplicado
o que enviaste numa prece ou maldição 
E dentro da tua verdade, colherás o teu bocado.

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