Da revista Prosa, Verso e Arte
Os seis pilares educacionais de Maria Montessori
“Não creio que haja um método melhor que o montessoriano para sensibilizar as crianças sobre as belezas do mundo e para despertar sua curiosidade para os segredos da vida”
– Gabriel García Márquez (Prêmio Nobel de Literatura)
O método
– por Gabriel Salomão | Lar Montessori
Método Montessori é o nome que se dá ao conjunto de teorias, práticas e materiais didáticos criado ou idealizado inicialmente por Maria Montessori. De acordo com sua criadora, o ponto mais importante do método é, não tanto seu material ou sua prática, mas a possibilidade criada pela utilização dele de se libertar a verdadeira natureza do indivíduo, para que esta possa ser observada, compreendida, e para que a educação se desenvolva com base na evolução da criança, e não o contrário.
Montessori escreveu que o desenvolvimento se dá em “planos de desenvolvimento”, de forma que em cada época da vida predominam certas necessidades e comportamentos específicos. Sem deixar de considerar o que há de individual em cada criança, Montessori pode traçar perfis gerais de comportamento e de possibilidades de aprendizado para cada faixa etária, com base em anos de observação.
A compreensão mais completa do desenvolvimento permite a utilização dos recursos mais adequados a cada fase e, claro, a cada criança individualmente.
Dando suporte a todo o resto, os seis pilares educacionais de Montessori são*:
1. Autoeducação
2. Educação como ciência
3. Educação Cósmica
4. Ambiente Preparado
5. Adulto Preparado
6. Criança Equilibrada
AUTOEDUCAÇÃO – Trata-se da ideia radical de que a criança é capaz de aprender sozinha. Todas as crianças aprendem algumas coisas sozinhas: andar, falar, comer, pegar, reconhecer voz e aparência, receber e fazer carinho… Mas em muitos casos, nós mal nos apercebemos disso. Em Montessori, nós confiamos na criança. Sabemos que se ela puder contar com o meio adequado, pode desenvolver quase tudo de forma independente e livre. Por isso, usamos materiais específicos, que são feitos para (1) serem manipulados pela criança, (2) trabalhando um novo desafio de cada vez e (3) dando a ela a chance de perceber seus próprios erros. Com liberdade cada vez maior de escolha, e total liberdade para repetir quantas vezes quiser cada exercício, a criança autoeduca-se constantemente e com sucesso.
EDUCAÇÃO CÓSMICA – Há muitas formas de se manter desperto o interesse da criança pelo mundo. Uma das mais belas é perceber que todas as coisas estão profundamente conectadas e dependem umas das outras para existir. Isso permite à criança desenvolver um senso de gratidão para com tudo o que há no mundo e perceber a ordem subjacente à natureza e ao universo. Havendo ordem, há relações entre as coisas, e havendo relações, sempre é possível fazer mais uma pergunta. Estruturar a parte da educação que tem a ver com a transmissão do conhecimento pela via das perguntas e das histórias é um dos papéis do educador montessoriano, que deve ser profundamente encantado pelo universo, para manter desperto o desejo da criança de saber sempre mais.
EDUCAÇÃO COMO CIÊNCIA – A estrutura escolar mais comum hoje deriva de uma organização da época da Revolução Industrial e foi baseada em hierarquias rígidas e relações de poder verticalizadas – e não naquilo que era melhor para o desenvolvimento da criança. Montessori era psiquiatra, e começou uma transformação na educação quando desenvolveu o Método da Pedagogia Científica (hoje chamado de Método Montessori). Por meio da constante observação das ações da criança, nós descobrimos, histórica e diariamente, o que ajuda o seu desenvolvimento e quais são as características de uma educação que, mesmo sendo mais eficiente do que a tradicional do ponto de vista do conteúdo trabalhado, colabora constantemente para a construção do equilíbrio interior e da felicidade na vida da criança e do adolescente.
AMBIENTE PREPARADO – Feche seus olhos, pense na natureza e encontre, no seu cenário imaginado, a água. É muito provável que ela esteja no chão, perto de tudo o que é importante para a vida – comida, abrigo, local de dormir. A civilização tirou tudo aquilo que é essencial à vida do alcance físico da criança. Nosso esforço em Montessori é devolver à criança o que lhe pertence, com ambientes de liberdade e independência, onde tudo seja organizado, oferecido e preparado para a ação infantil. É importante que o ambiente da criança fale com ela, que seja do seu tamanho, simples, minimalista mesmo, e que contenha objetos interessantes e importantes para sua caminhada de vida rumo à independência do adulto.
ADULTO PREPARADO – Todos os outros princípios só funcionam quando o adulto que interage com a criança se esforça para, ele também, transformar-se interiormente. Montessori dizia que precisávamos abandonar o orgulho de sermos adultos, e a ira contra a criança que não se conforma às nossas idealizações, planos e vontades. Para ela (em um livro chamado A Criança) é necessário que nós nos humilhemos e passemos a incorporar a caridade em todas as nossas ações para com a criança. O adulto preparado é um observador que confia na criança e busca nos atos dela as indicações de suas necessidades. Depois, pela configuração do ambiente e pelas interações, tenta oferecer os meios para que a criança as satisfaça. Esse adulto nunca ajuda mais do que o mínimo necessário, abstém-se de colaborar sempre que a criança acredita que pode agir sozinha e garante, a todo momento, que sua presença possa ser sentida caso seja necessária.
CRIANÇA EQUILIBRADA – A criança nasce com o que Montessori chamou de guia interior. Existe, na criança pequena, algo que indica qual o tipo de esforço necessário nessa fase da vida (andar, pular, correr, falar, aprender isso ou aquilo). Se esse guia puder efetivamente direcionar a ação da criança e os adultos souberem oferecer os meios adequados para o desenvolvimento, a criança alcança um estado emocional e psicológico de graça. Ela alcança o equilíbrio interior e torna-se, primeiro, muito mais concentrada, e em seguida a um só tempo mais feliz, generosa, esforçada, cheia de iniciativa e independência e consideração pelo outro. A bem da verdade, o equilíbrio natural da criança pequena é o único e verdadeiro objetivo de todo o trabalho montessoriano, é aqui que queremos chegar e é daqui que partimos para todo o trabalho educacional.
Todos os princípios do método Montessori devem funcionar em união, para que a criança se desenvolva de forma completa e equilibrada. É necessário compreender a criança para identificar nela os sinais da eficiência daquilo que lhe está sendo oferecido. De acordo com Montessori, “uma das provas da correção do processo educacional é a felicidade da criança”.
O método Montessori tem sido utilizado em escolas por todo o mundo, desde o berçário até o Ensino Médio. Além disso, aplica-se Montessori em escolas especiais, clínicas de psicopedagogia e lares mundo afora. Clínicas de repouso aproveitam características do método montessoriano para o tratamento de demência e Alzheimer e iniciativas empresariais aplicam princípios do método para o melhor desenvolvimento de seus negócios.
Os pilares que escolhemos expor aqui são uma escolha de sistematização entre várias possíveis. Aprendi vários desses princípios com Edimara de Lima, diretora da escola onde estudei, e ainda hoje acredito que faz sentido sistematizar Montessori assim. A explicação que está acima é a mais recente. Se você quiser a que esteve disponível nesta página antes, clique aqui.
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