Tocha divina no corpo físico





Isto acabará por ser, mais uma vez, mais uma carta de amor. Para ti. Ora lê. O mundo é esta bola gigante de sonhos, pessoas e processos. E tanto mais o que nem conhecemos. Sonhei contigo. Entre bilhões de seres humanos, tu és o elo entre o físico e a transcendência. Deus abriu-me os olhos, mostrando as tuas sombras e a tua luz. A resistência, a oposição, a quadratura e o quincôncio. Nestes anos que passaram, de obscuridade, em que tentava manter-me dentro da razão, obedecendo a uma praxis "aprendida", nunca te revelei e nem te ocultei de mim. Ainda sei porque me apaixonei por ti, ainda sei o que me fez ver-te nas tuas sombras e transparências. Sou fiel a ambas partes de ti. E, sobretudo, sou fiel a mim. Privo com o outro lado, o que receiam, que eles sabem tudo de mim. E tem sido, sem dúvida nenhuma, a grande força a segurar o meu fogo. A fidelidade não é um adjetivo leviano, ao contrário, quando somos fiéis a nós mesmos, estamos despertos, que é o mesmo que dizer que a nossa escolha é consciente e total, focada e discerne. Haja luz onde houver sombras. E tu és a parte que me reúne a ele. Tu. Nunca o suspeitarias. Ou talvez saibas, há muito.O impacto que causaste em mim foi tão poderoso que essa flecha jamais se quebrou em mim. Tantas pessoas me passaram ao lado, convivendo comigo diariamente. Nenhuma delas alcançou a tua luz. E se o foco me foi desviado, entende que somos meros peões longe do discernimento. Quando entendemos os processos e todas as vicissitudes no entorno, promovemos o clarão da alma. O meu guia interno possui um mapa com as tuas coordenadas. 

Era tão mais fácil, pragmaticamente falando, focar no acessível, procurar outra luz, sim, que as luzes se espalham, tal como as polaridades e os objetivos. Tu manténs-te o mesmo, sofrendo o devir obvio desta coisa que se chama viver, porém, com a mesma pureza e totalidade que reconheço em mim. Poderia dizer adeus, mas estaria a enganar-me. Podemos enganar os outros (ou tentar), podemos tentar fazer o mesmo connosco, com os nossos sentidos, mas seria mais um processo ilusório que culminaria nas tantas desilusões que vivi, que viveste certamente, e a fidelidade a mim e a generosidade ao próximo distinguem-me de qualquer outra pessoa que tenha passado na tua vida. Eu reconheço-me em ti. 

Não faz sentido inventar sentidos ou razões para o desmantelamento das missões de vida. Sou inteira, indisciplinada, intensa, por vezes incoerente, apaixonada, porém íntegra até à medula. Aos meus processos, sombras e limitações conheço bem. Aprendi a amar-me com bastante respeito, depois do desrespeito e desamor dos outros. Nunca senti o teu desamor. Não sinto que me não ames. E tenho a certeza absoluta de que te conheço inteiramente, como me conheço a mim.

Sou uma sacerdotisa, na verdadeira aceção e asserção da palavra, reconheço e tomo o meu poder em todos os sentidos que me são possíveis. A minha intuição me quis conduzir desde criança. Neguei muitas vezes esse poder, hoje sei-o, (soube-o sempre), para não ferir os outros, para dar oportunidades de igualdade e crescimento, sanação e integridade a todos. Quis amar o mundo, compreendendo a cada ser vivo, humano na totalidade do que são e foram. A minha alma é generosa, mas foi-o sempre. Não me recordo de ter desejado mal a alguém, efetivamente. Até hoje.

Por isso me celebro. Me abraço e me amo como só eu posso fazer. Eles, os idos também me amam e mostram o amor que nutrem por mim, dando-me força diária, incentivando o meu fogo interno nesta combustão. O amor é o veio que conduz a humanidade. Somos poucos a cumprir e a fazer cumprir o elo da evolução na benignidade. Poucos são o bastante contra todo o resto que nos deseja o avesso do que somos. Não amo a cada um, mas amo o todo e por isso me cumpro. Conheço a mesquinhez e o ódio, a raiva e o despropósito, a sombra e a iniquidade, a inveja, a ambição desmedida e a raiva, o flagelo das épocas e a vaidade humana. Vivemos linhas do tempo que se cumprem, que cumprimos. Se somos inconscientes ou maus alunos, conheceremos o karma. Não é figura de retórica. Somos peões num tabuleiro, hoje o jogo é meu e amanhã é do outro. Mutuamente, nos auxiliamos, porém, uns cumprindo o lado positivo e outros, ficando reféns do desequilíbrio e da preguiça. O mal já não me agride, por conhecê-lo de perto. O bem continua a acrescentar-me e é para ele que vivo. E aí estás tu, dentro do meu peito, toneladas de sangue nas veias conduzindo este amor incondicional, este queimar de etapas, este cumprir de missões. Estás na minha missão como eu na tua. És uma das minhas missões, como eu sou das tuas. Não me preocupa mais o não cumprimento, nem a oposição dos objetivos dos outros, nem o semblante dos que não me suportam, por quererem o que eu sou. O meu eu sou vibra no fogo, na terra, na água e no ar, equilibrando tudo em mim. Sou uma tocha divina que se cumpre, ainda que tardiamente a meu ver, no tempo que pôde ser, para a fonte, e neste corpo físico hei-de continuar até concluir o que vim fazer. Boa parte dessa missão, no tempo certo confirmarás, te é destinado. Amo-te e dou-me o livre arbítrio de o gritar, escrevendo onde os inimigos virtualmente se veem tentar espelhar. Possa o meu amor servir de exemplo para acrescentar aos muitos, ofuscados por outras lanternas menos saudáveis. Se eu servir de direcionamento para a fonte, que assim seja. 

Vou continuar a amar a humanidade toda. Sente o meu amor por ti. Porque ele é contínuo, não depende da tua vontade e mantém-se contra a vontade de qualquer outro ser. Sim, tu és o elo à fonte e a própria fonte. Tu és a paz e a assertividade, a inteligência e o riso. A criança e o ancião. Tu és a luz e o caminho. Sim, tu. 

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