Alma Novaes
Um Bê à Bá
para meninos grandes
Gatinha e balbucia
a criança pequena que
ainda não fala,
descobrindo o ser
no mundo que fala,
a cor, o cheiro, o sabor e
a língua de cada objeto
e quando cresce e já caminha,
o adulto soberbo e astuto,
já entende e cala
Quem não gosta das crianças
enquanto são inocentes
e cruéis, desconhece
as proporções
de guardar ou denunciar
dores e afins
doenças e feios perlimpimpins
e faz cópias condicionadas
marionetas de adultos,
esses outros astutos.
Quando crescem, revelam-se
nos atos, muito mais do
que nas palavras,
no espelho dos congéneres
copiando, sábias,
se tornam delas escravas
Ensinem aos vossos meninos
enquanto gatinham e andarilham
Valores e verticalidade do ser
Não esperem que se revejam
naquilo que vocês apregoam
e no agir destoam; elas copiam.
Existe uma notória diferença
entre ser e ter
um antónimo nobre entre
colega e amigo
Colega qualquer um tem,
isto é ter.
amigo é diferente
porque implica amar,
e isto é, obviamente, ser
em profundidade.
Não corrompam o divino
sequer evitem o destino,
só experimentando
cultivando e sendo,
podem auxiliar
no processo dos ideais,
não façamos deles rebanho
tentando colonizá-los,
impedindo-os de aprender,
deixem-nos livres para questionar.
O mundo precisa dos porquês,
tantos quantas de respostas e,
será no colidir da vertigem,
da queda e da curiosidade,
do abismo e da espontaneidade
que se aprende
esta experiência de viver
e tantas vezes a entender
que ser gente, ser humana
é calçar o sapato do outro,
ser sensível e empático,
não tem que ver com a idade,
mas com entender que
somos todos iguais
E não se esqueçam
de mostrar-lhes
que são as consequências
dos seus atos que irão
definir a sua aurora
bem como o seu crepúsculo
Que todo o ideal carece
de escrúpulo
Porque há quem acredite
que vale tudo
- Meios abjetos e limitadores -
para atingir os seus fins
E expliquem-lhes, a par disso
que humanidade é o coletivo
e que individualidade é a fagulha,
a gota, a diferença que irá fazer
de cada ser uma centelha,
mais uma estrela no mundo
E já agora, abram-se e
sejam tolerantes e
registem os seus sonhos
sem os condicionar, nutram
e amem os avanços,
deem asas às crianças,
porque estas crisálidas chegaram
para mudar o mundo,
para mergulhar no profundo,
deem espaço e evitem danos,
estes meninos escondem asas e
os seus próprios planos,
sem lhes enviesar os sonhos,
deixem-nos medrar, fecundos,
eles vieram voar.
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