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Os símbolos são hieróglifos com história, ou cadeiras, onde se senta o conhecimento e amealha séculos e, se não mudar, diz-se contemporâneo e até vitalício. Há símbolos inalteráveis, que não precisamos defender. Porque a sua leitura se compreende e estende ao longo dos séculos, e atravessa fronteiras linguísticas, étnicas e um sem fim de preconceitos e estigmas. Que nós, humanos, nisso somos bons. A perpetuar crenças e desavenças, mas também no contrário, encontrar hegemonia nas nossas diferenças positivas. Nós humanos, outra vez. O símbolo da serpente ficou para sempre, pendurado em cima das farmácias, com éfe e com pê e agá. A taça continua a ser a cura para o veneno da serpente. E as empresas farmacêuticas, tão envolvidas na cura das doenças, inverteram os polos porque encontraram um negócio rentável na doença, e menos rentável na cura. E com isso, a ciência ganhou na mesma, mas quem perdeu fomos todos nós, os humanos que construímos a ciência e que, por que mudamos o polo e investimos no negócio, deixamos de ter saúde. Para ter uma doença repartida em suaves mensalidades, um bem adiado, se depender dos laboratórios, para todo o sempre. Porque, vejam bem, a minoria, que é o dono da farmácia, associado aos laboratórios que são os donos dos produtos e composições químicas, decidiram que tinham que fazer render a falta de saúde. E como toda a sociedade tem por princípio o polo do enriquecimento, a saúde deixou de ser rentável para passar a ser algo comprável e ilusório. E querem ver, deu certo! A área da saúde, que tinha uma ideia clara de atingir a melhoria do indivíduo neste quesito, decidiu que a doença se tolerava, desde que houvesse forma de a tornar tolerável e, ainda assim, beneficiária para essa minoria. Agora, façam contas. São muitas farmácias, muitos laboratórios, muitas vacinas, muitos antidepressivos, muita gente envolvida no negócio de manter a doença. Até porque, tudo o resto caminha em paralelo para estragar a saúde. A alimentação fast e light, as ideias erróneas, a baixa autoestima, o conceito de emprego é ele próprio uma doença, porque está associada a algo seguro. Os gadgets e a prisão pela posse deles. Mas por que raio queremos um emprego seguro? Para garantir que tenhamos dinheiro para pagar as contas da farmácia, da casa, do barco, da moto, do curso, das férias, do outdoor que nos financia a vida, a comida, o prazer e que nos apressa os temores, que nos provoca as ansiedades, nos conduz ao estado depressivo, ao fracasso de expectativas, que são as minhas de mim, e as minhas dos outros sobre mim e, a dos outros sobre eles, e é aquela autoestrada que nos leva à farmácia. Daí que a farmácia resiste estoicamente, mesmo e quando alguns medicamentos ficarem presos, temporariamente, a vermelho rotulados e terem que ser colocados fora do mercado, por produzirem estes e aqueles outros riscos secundários, aqueles e outros efeitos reacionários, num organismo que ainda é humano. Mesmo com as ameaças de controlo sobre as receitas e sobre as baixas por doença, e sobre o excesso de químicos por paciente, e sobre a automedicação que são, em tudo, piores que os livros de autoajuda, bem piores. E acrescentamos, do mal o menos, e vamos construindo as crenças para um dia, os nossos descendentes, numa linha reta, terem que desmontar, por serem inúteis, por conduzi-los a estados menos benéficos num sentido lato e geral, específico e temporal. Chegamos aos símbolos e é melhor estudá-los. 

O símbolo da psicologia é o da borboleta em transformação, a ciência da mente, mas o símbolo confunde-se com o símbolo de neptuno, o deus dos mares e das tormentas. Curioso, não? E ninguém crê na psicologia enquanto ciência. E menos ainda na astrologia e na astronomia. Mas há provas de que a psicologia é uma ciência. Que não devia ser vista como exercício de uma só classe, porque se a psicologia é uma ciência, é, também, um instrumento de trabalho que serve para melhor conhecer a ti mesmo e conhecendo-te a ti, conheces os outros. Nos outros vemos o nosso reflexo. E a maior riqueza é conhecermo-nos a nós mesmos. Daqui advém sabedoria popular que corresponde também ao ramo de outra ciência menos específica e mais geral que é a medicina. Queres conhecer o teu corpo, mata o teu porco. Mas por que raio hás-de matar um porco, no século XXI quando há tantos mapas do corpo, seja em que termos for, ósseos, orgânicos, biológicos, estruturais? Porque continuamos a não ser coerentes, no que diz respeito aos animais, que são da nossa responsabilidade e a exterminar raças de animais por causa dos nossos excessos? E os excessos também mexem com os astros no céu, não só com os de cá de baixo. A aerodinâmica pode afiançá-lo e prová-lo todos os dias. A física quântica idem. Mas a nossa imortalidade física há-de ser desenhada por quem tiver mais metal. Sempre os excessos. A psicologia só pode deixar de ser académica, bem como as outras ciências quando permitirmos o seu uso como ferramenta corrente e utilitária do nosso dia-a-dia. O mundo é grande, mas não excessivo. Nós sim, somos excessivos no pouco e no muito, no bom e no mau. E até no mais ou menos e no moderado. Nós que fomos desenhados para ser bons, seremos sempre mais ou menos, porque nos excedemos na apatia e no comodismo, na falta de contestação e no conformismo. Somos seres excessivos. Mas não somos meramente simbólicos. Não sejamos tão académicos assim. Se é para estruturar algo que venha acrescentar, tenhamos a força e a coragem de debatê-lo, de testá-lo, de entrosá-lo e estejamos dispostos a ser contestados e a explicar por que pensamos assim ou assado, por que optamos por aqui ou por ali. Os braços estão cruzados há séculos. É um tempo excessivo para alterar e consolidar. 

E temos outro símbolo curioso e deveras mui inteligente e ineficaz, para dizer por alto, dos seus efeitos. E se conhecemos casos em que ela acontece, a tal da justiça, rumaremos sempre a cartoons e caricaturas por ser mais frequente e gritante o oposto. A justiça e o direito possuem o símbolo da balança e dos seus pratos equitativos que, de equitativos, só são no símbolo, mas sempre foi com bolos que se enganaram os tolos. Que é dizer que todos acreditamos no significado do que é reto, do que é justo, que todos têm direito a julgamento das suas ações, até prova em contrário. Os tribunais são regidos por homens. As togas são um uniforme que pode impor respeito, medo, entre outras coisas. É bom haver respeito, porém o medo só serve para perder respeito e querer escapar à autoridade e ao conformismo à autoridade. As multas são os atos condenatórios imediatos, para não precisarmos de tribunais, nem de julgamentos, mas funcionam no sentido contrário ao da sua função, que é o de precaver e não o de abusar. Nem de um lado e nem do outro. É o excesso do limite que faz desandar o direito, que se faz torto. É o excesso de poder que nos leva à injustiça, à produção de provas falsas, a mascarar situações que fogem em tudo da verdade. De um lado e do outro. E quem compensa os lados da balança? As fardas ou uniformes também possuem uma simbologia, baseada no respeito hierárquico e no respeito autoritário. Os ditadores usam-no e abusam dele. Sabemos todos. Mas as ditaduras, também elas vão tendo símbolos menos repressivos, como forma de conquistarem os que dormem, de se estabelecerem e rasgarem crenças que, por si só, não abonam a favor do ditador. Neste século, até os ditadores estão mais expressivos e tolerantes. Mas não se deixem enganar. Esses populismos modais ganham expressividade na ignorância e na preguiça de pensar-se o futuro. A nossa falta de coerência é excessiva, a nossa preguiça coletiva em enfrentar o que defendemos, em intervirmos no social é excessivamente parca. Os que intervêm, acabam com um tacho na assembleia, com um tacho na câmara, e deixam-se comprar pelo sistema. O sistema é o mesmo em todo o lado. Tornar os grupos uniformes e controlados. O estratagema é esse, contando com o nosso silêncio como consentimento, com a nossa apatia pela preguiça e incapacidade, com o medo em troca da segurança que existe nas cadeias e nos hospícios. Sabemos que somos excessivamente covardes. A empatia é a ciência de sentir o que sente o outro, como vive o outro, que forma temos de auxiliar o outro para que não adoeça, e a empatia não é excessiva. Nessa ciência, a exatidão é esta. Saber que somos poucos a usá-la, dispostos a enfrentar medos e preguiças para alterar e promover a mudança. Seremos excessivamente fracos? Seremos atávicos na humanidade? Seremos excessivamente atávicos, para tentar salvar a próxima década? 

Os símbolos são poderosos, para o bem e para o mal. O bem não me preocupa. Desde que o haja, que se preserve. Haveremos sempre todos de querer descansar, numa praia e de chupar um gelado ao pôr-do-sol, de dançar, de comer e de viver dignamente, embora a escravidão nunca tenha feito ninguém feliz. Não viemos ao mundo para trabalhar em áreas contrárias às nossas paixões, nem para sermos escravos de sistemas e nem consequências da desumanidade generalizada. Estará na hora da maturidade intelectual e operante, na estação da colheita, no tempo certo de levantarmos as questões certas, para que surjam as divergências e as concordâncias. E as soluções. Estará na hora de debater a eficácia e a falácia do sistema e como se tece no teatro das operações da vida essas conclusões. Estará na hora de rever os símbolos, de refazer a história, de abrir o cofre de humanidade antes que seja tarde demais para os que estão a nascer agora, que insistimos em trazer ao mundo, aceitando as sociedades e as mentalidades, num progresso mecânico a que eu chamo retrocesso. Não somos robôs, mas estamos condenados a imitá-los, se a saga for esta. A eles nunca nada doerá, nem a falta de liberdade, nem a ausência de fraternidade, nem a desigualdade do sistema. A morte os substituirá. Como, de resto a nós. Que nos dói tudo. Sobretudo a desumanidade, quando ela nos atinge. E não temos voz, nem ferramentas, nem símbolos que nos defendam. E temos tanto para repensar e alterar. Na educação, na economia (e na questão dos impostos), na segurança social, na habitação e no acesso a ela, na reestruturação das leis, no próprio calhamaço da Constituição da República. Na questão dos partidos e dos governos. Temos que começar por algum lado, mas é impensável procrastinarmos ad eternum. As injustiças sociais e a desigualdade, a necessidade de proteção de menores e seniores, o acesso à vida tem de ser garantido, assumindo ser necessário o mínimo de condições sociais, económicas e políticas. Em Liberdade. Sem ditaduras e nem partidos! Todos devemos assumir o que está mal e todos somos responsáveis. Todos devemos fazer parte do governo deste país, das comunidades, todos temos o direito de saber com que linhas se hão de coser os destinos da nação. E sabermos que estamos resvés com um precipício, na cauda da Europa, temos que chegar à frente na organização, no combate da corrupção e pensar novos modelos, de acordo com o desenvolvimento e as circunstâncias atuais. Não podemos continuar como a avestruz, com a porra da cabeça na areia! Termos essa noção é importante para chamar a sociedade à responsabilidade. Empenharmo-nos nas respostas, de acordo com essas responsabilidades, idem. E isso faz toda a diferença.   

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