Vladimir Maiakovski & João Bosco


 Letra do autor e dramaturgo russo Vladimir





LÍLITCHKA!



Em Lugar de Uma Carta

(Petrogrado, 1916)

.

De qualquer forma

o meu amor

– Duro fardo por certo –

pesará sobre ti

onde quer que te encontres.

Deixa que o fel da mágoa ressentida

num último grito estronde.

Quando um boi está morto de trabalho

ele se vai

e se deita na água fria.

Afora o teu amor

para mim

não há mar,

e a dor do teu amor nem a lágrima alivia.

Quando o elefante cansado quer repouso

ele jaz como um rei na areia ardente.

Afora o teu amor

para mim

não há sol,

e eu não sei onde estás e com quem.

Se ela assim torturasse um poeta,

ele

trocaria sua amada por dinheiro e glória,

mas a mim

nenhum som me importa

afora o som do teu nome que eu adoro.

E não me lançarei no abismo,

e não beberei veneno,

e não poderei apertar na têmpora o gatilho.

Afora

o teu olhar

nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.

.

Amanhã esquecerás

que eu te pus num pedestal,

que incendiei de amor uma alma livre,

e os dias vãos – rodopiante Carnaval –

dispersarão as folhas dos meus livros…

Acaso as folhas secas destes versos

far-te-ão parar,

respiração opressa?

.

Deixa-me ao menos

arrelvar numa última carícia

teu passo que se apressa.



 Tradução de Augusto de Campos


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