A violência como destino
Predominam os lugares-comuns do tédio e do enraizamento. Estão programados para aceitar, não importa o quê, nem o como, nem o quando. Aceitar passivamente. Mutantes vestidos como humanos, vestes iguais, esvaziados de conteúdos positivos, impera a voz do som da ausência da humanidade. Vagueiam com pernas e braços, com pensamentos e vontades exaustas, empurram-se para obedecer. Para onde foram despejadas as suas vontades e sonhos?
Os iniciados caminham para dentro dos seus corpos, habitando-os, para que possam ver os campos de feno e trigo extensos, para que ousem despertar os sentidos, o olfato, para que se atrevam a olhar o que esqueceram, quando dispõem na cadeira dos quartos as vestes iguais que os torna semelhantes a humanos. Eles fazem-nos despertar dentro do sonho e fazem-nos ver a esquizofrenia dos cenários e dos seus próprios atos, despidos de empatia. E nas esquinas escuras da selva humana, veem cadáveres que se empurram para o aniquilamento da loucura que os persegue, as doses de veneno que engolem não lhes permite ver que são mutantes em busca da esperança. E adentramos nessas selvas como se entrássemos noutra era, noutro mundo, onde se fodem contra as paredes grafitadas, onde se impregnam dos ofícios da robotização, submetendo-se a eles e a outros às sevícias primitivas do esquecimento, da anosmia dos cheiros da infância, desprovidos da sua humanidade. Os iniciados entram nos seus corpos cansados e tentam remendar as fraturas da sua falta de civismo, da sua inoperância na construção de sonhos. As vísceras viciaram-se no despropósito e agarraram-se como árvores ao entorpecimento, como se tudo assim fosse, desde que entraram fractais no caminhar das épocas. Eles não falam, só sabem calar da violência da qual são testemunhas e vítimas silenciosas e cooperantes, tal é a abdução do self. Substituíram os amanhãs pelos ontens e aí vivem, perdidos, como os insetos rodeando as lâmpadas, ofuscados pelo devir que sentem como golpe nos corpos físicos e mentais. São escravos dessas visões apocalípticas de fim dos tempos e obrigam-se a si mesmos, se diante do espelho, a verem-se como insurgentes e visionários de uma decrepitude que os cega e os mantém viciados ao sistema. Os iniciados erguem-lhes os braços e as vontades, para que possam escolher o caminho da construção. Não desistem deles, nem eles parecem desistir dos que os mantêm nessa alucinação de incoerência e despropósito. Um dia, a alva manhã alocará os seus corpos para uma vala comum, se persistirem em, tal como morcegos, percorrer as madrugadas da violência escolhida.
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