Diário de um sábado da caganita de pássaro

 


Silvana Estrada, Te guardo


Foste comigo, mesmo não estando ao meu lado. Levo-te sempre comigo.

Depois de lavar lençóis, de preparar pequenos-almoços e almoços, de arrumar cozinhas e fazer o check list ao que precisava da rua, dei de frosques. O Tomás ficou na conversa com a avó. A Kirie babava os filhotes de mimo. Os gatos roçaram-me as pernas e antes que me queimassem mais tempo, saí e parei no Ramirinho, para ver se comprava o pão de ló que a Eva tanto aprecia. Ao estacionar, encontrei o Secretário que me parou para me contar que andava a evitar o vinho por ora, que andava a tomar um medicamento para o papo. Saí dali e fui à farmácia, perto do meu ex-gabinete de psicologia e trouxe a medicação para a senhora minha mãe. Subi ao talho. Uma peça de carne pequena para assar, três bifes da vazia e seis bifes de frango. A máquina de passar faturas avariada, outra vez. Cá pra mim, aquilo está com um bz dos que dá jeito aos patrões. Dei a volta à rotunda, rotundas nesta terra pequena e mansa não faltam. Inventam rotundas. Desci novamente e fui comer um gelado e tomar um café a Entre-os-Rios. Dois barcos cidade estavam estacionados. No balcão perguntaram-me se eu era benfiquista. Credo em cruz. Não sou coisa nenhuma, sou simpatizante do Sporting, porque Alvalade é um planeta. Começaram todos a rir e a tirar nabos da púcara. E acabei por lhes dizer que em criança, o meu pai comprava-me para eu ser do FCP, depois disso, deixei de achar piada ao futebol, aos rapazes que correm atrás da bola. Para me preservar das piadas machistas e porque o amor da minha vida era sportinguista, acabei por simpatizar com essa grande escola do clube que produzia craques. E nunca mais virei de camisola. Sempre gostei do verde. Palpites pra logo? - Cá vai, três a zero, ganha o Sporting.

Não fiquei a olhar a cara dos senhores, ouvi-os rir.  A esplanada estava às moscas e só no interior se apinhavam de conversas futebolísticas. A equipa do barco-cidade encontrava-se a tomar cafezinho e um dos barcos preparava-se para sair. Sentei-me cá fora, a comer o geladito e a tirar meia dúzia de fotos. Tomei um café na companhia do cigarro e ainda vi o King a abandonar o cais. 

Voltei ao bote completamente repleto do pó provocado pela Penafiel Verde e voltei a casa. Passeio curto o meu, o passeio dos tristes, mas fiz tudo o que era necessário e ainda vi gente bonita e ativa. Depois de ter tirado da corda a roupa, distribuído ossos pelos meus dogs, temperei a carne em vinha d'alhos, gengibre e alecrim, para assar amanhã, fui levar o lanche à minha mãe que desatou a rir quando viu o pão de ló e o presunto e lá me pediu um copinho de vinho ou cerveja. Meio copo de cerveja. Neste momento, pôs de lado a malha e as palavras cruzadas e está a saborear o lanche favorito dela. 

Despi-me, voltei aos chanatos e ao roupão. Agora coloco uma música e dedico-te o entardecer. E vou-me aos movies.

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