Hoje fui ao moinho

 



Fui ao Moinho do Moleiro. Estava lá o Moinho, mas não vi o moleiro.
Na verdade, fui lá marcar o almoço de domingo. Não aceitamos reservas, venha cedo, para o cozido à portuguesa, ou então, já só come o que houver, rojões, arroz de tomate e sardinhas, pataniscas ou moelas, omeletas também se fazem, venha é com fome, home, mas olhe, está uma tarde tão bonita, assente-se, faxavôre, beba um espadal, o primeiro pago eu. O jovem que me acompanhou perguntou se havia papas, a jovem se havia presunto e queijo. E isto foi só para começar, antes que nos desse o arejo! Isto de ir lá e perguntar se há petiscos é como ir a Espinho e perguntar se há marisco, ou como perguntar ao Papa se sabe onde é o Vaticano. Lanchamos e apreciamos as vistas. O lugar é terapêutico, se aquietares o tempo suficiente e não estiverem resmas de gente espalhada a conversar. Ouves as águas a marulharem no rio, o tempo pedir licença para passar. 
No caminho, enganei-me e tinha a certeza que morava para aqueles lados um engenheiro de física nuclear que já não via há muito tempo. Perguntei a uns senhores se não era naquele curral, acima, que morava um senhor muito famoso, olharam uns para os outros e outros para uns e disseram-me: Num sabemos, minha sinhôra, eu sei que o sinhôre é do Puorto, agora se ele é famoso, num sabemos.
Dei de frosques e fiquei a magicar, que o senhor engenheiro devia andar a inventar uma forma engenhosa de levar a inteligência artificial para aqueles lados tão ermos.
Sim, ali funciona tudo a espadal, quero dizer a pedal, devagar, devagarinho. Ou comes e bebes, ou morres à sede e vens mal! Foi o que fizemos. Agora, a malta nova, tudo em casal, vai beber uma caipirosca pros lados do parque da cidade, enquanto os kotas se entretêm a ler livros e assim. Vou servir-me de um licor de café com gelo e acabar com o Salman Rushdie, ou o contrário, porque os jinis são assim, se nos apanham distraídos. 
E amanhã é domingo. E depois é segunda. E se ninguém morrer, sempre se pode fazer besunda!




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