O banco Universo e o progresso do silêncio

 




Todos os caminhos vão dar a Roma. Não obstante a longura dessa latitude. Cubro a cabeça com os cobertores até sentir o calor da minha respiração e precisar de respirar de novo. Preciso vomitar. E corro, tropeçando nas minhas próprias pernas, sem nem tempo de calçar os chinelos. E já no quarto de banho, depois de levantada a tampa, tudo o que sai pela glote é uma espuma líquida e branca e uma agonia que me vem do estômago. Roma não há-de ter culpa desta indisposição. Entendo que é o meu organismo que anda a reter e a expulsar o que guardo e não é meu. Depois de passar água fria no rosto e gargarejar o forte elixir na boca, regresso ao quarto, ainda na escuridade. Procuro os chinelos, abro a portada, devagar, de modo a não acordar ninguém na casa e oiço os homens lá fora, com a retroescavadora, a comporem o muro. O sol quer fixar-se no céu, muito embora, o que colho do dia é, junto ao tanque, o chão molhado, a cerejeira frondosa e molhada, os cães nervosos do vizinho que se não calam e os meus olhos dolorosos da sinusite que sempre regressa com oscilações meteorológicas. 

Guardo em mim todos os ontens de ti. Mais um maço de cigarros vazio, mais um cinzeiro medonho e tudo o que me apetece é despejar todas estas discordâncias de mim na cama, mas não cedo ao corpo, empurro-me para a cozinha. A Hara Kirie precisa de tomar a gabentina, hoje tentarei com uma fatia de bolo. A esterilização está marcada para quinta de manhã. Se eu chegar a quinta de manhã. Se o mundo chegar a quinta. Ligo o rádio baixinho, enquanto me sirvo de iogurte, com meia tampa de colagénio e ligo a máquina de café. Na janela da cozinha, três voyeurs, o Che, a Minie e o Nicolau. Rego as plantas na borda, enquanto tento dissolver aquele pó no iogurte e vejo-os dar turrinhas no vidro, a chamar a minha atenção, falo com eles em gatês, primeiro deixem-me colocar qualquer coisa na minha glote. Engulo tudo rapidamente e parece-me ouvir o Tomás a chamar-me bárbara. Sim, sou bárbara em tudo. Quero driblar o mundo e afagar todas as criaturas que são tudo menos bárbaras, que me merecem a atenção e a ternura. O café com espuma abre-me, finalmente, um sorriso e eu gosto tanto de ter motivos para sorrir. Deus sabe e eu também que preciso de motivação para afastar com sucesso o cansaço que me tenta arrastar repetidas vezes no dia para a cama, depois das obrigações cumpridas. Este karma que não termina. Volto ao quarto, só para pegar num maço de cigarros novo, abrir e despejar mecanicamente os plásticos no lixo. Acendo o cigarro e sorvo o último gole daquele líquido quente e amargo que tanto gosto. 

Abro a porta da rua, e já tenho todos os patudos, cães e gatos nas pernas, me cumprimentando, e correndo para a churrasqueira que é a casa deles. Espreito os dois baldes de água da Hara Kirie e do Rocky. Despejo o que resta daqueles resíduos de baba e abro a torneira. Os gatos têm os 4 potes quase vazios. Enquanto deixo um dos baldes a encher, vou até ao balcão onde tenho os sacos da ração. Três. Todos diferentes. Misturo daqui e dali, sirvo os gatos, sirvo a kirie e o Rocky ainda deve estar a dormir. Nunca falha a hora da comida, exceto se estiver a dormir. O meu velhinho lindo. Chamo-o. Chamo a Lucy e a Mimi. Vêm ambas, o Rocky continua a dormir no sopé das escadas da casa velha. Coloco os baldes de volta, para que os animais não tenham sede. Encho as púcaras dos gatos. E vou, finalmente, espreitar o muro. O Sr. Casimiro dentro da máquina retroescavadora, o outro senhor a colocar pedras no sítio onde antes estavam torpes. Ontem vi-os demolir o final do muro, mas logo a seguir tinha começado a cair uma chuva forte e eram seis da tarde e já se tinham pirado, deixando a abertura do muro, sem rede e sem proteção nenhuma. 

Cumprimento-os e regresso aos animais. Tenho ainda três tapetes de arraiolos para apanhar, mas mantenho-os na corda, porque protege os meus gatos e cães, quer do excesso de sol, quer do vento e da chuva. Olho o dia, cheio de caras. O céu cheio de nuvens. O meu estômago embrulha-se e abeiro-me do jardim e desta feita vomito a sério. Novamente espuma líquida. O dia promete. As portadas do quarto da minha mãe continuam fechadas. Entro silenciosamente e regresso à cozinha. Esqueci-me de retirar alguma coisa do congelador para o almoço. Lá vou ter eu que inventar. O almoço será qualquer coisa entre o que há das poucas possibilidades, entre atum, salsichas, ovos, omeleta com enchidos ou outra coisa qualquer. Não me preocupo com isso. Nem quero lembrar-me já da comida ou volta a embrulhar-me o estômago. Tomo um benuron. A dor de cabeça ameaça sempre o meu dia de nuvens escuras e carregadas. Volto ao quarto. Leio o gmail. Dou-me conta que uma máscara preta toma conta do ecrã e tem acontecido imensas vezes. E se eu disser ao Tomás, ele diz: é mamã, é um grande haecker amigo do rui pinto que descobriu que tu és riquíssima, só tu é que não sabes, e deve estar a tentar descobrir se guardas no icloud o número das contas offshore que tens, algures nas maldivas. Claro que ninguém quer saber de ti, tu és uma ilustre desconhecida. E se fosses rica, oh pá, não me admirava. 

Não acordo a minha mãe, porque se deita sempre tarde, porque gosta de ver todas as invenções que distraem os seres humanos, dentro da caixinha que agora se chama ecrã. Só se não acordar até ao meio-dia. Aí, vejo-me sempre obrigada a tomar medidas. Acordo-a. Menina Eva, já é dia há muito. E ela resmunga sempre, que se deitou tarde e que bem podia deixá-la dormir mais um pouco. São agora quase dez. Estou no pc a escrever este amontoado de insignificâncias que fazem parte do meu dia. Acordou o Tomás, oiço-o na cozinha. 

E neste apanhado de insignificâncias minhas, decidi deixar uma nota ao Universo: Vou apanhar-vos e vai ser na curva. 

No ano passado, a dez de agosto de 2023, o meu irmão veio cá acima, visitar a mãe e decidir levá-la para passar uns dias com ele. Ela não queria. Já lho tinha dito, mas ele é teimoso que chegue e decidiu fazer ouvidos de mercador. Lembro-me que fomos almoçar os três ao Milho Rei e uma semana antes, tinha-lhe dito que estava muito cansada, stressada, que precisava de ter dois ou três dias, sem pensar em nada e sem o peso de responsabilidades, que nunca tinha folga e nem fim de semana, nem feriados e nem dia de ficar doente. Ele que arranjasse dois ou três dias para vir estar com a mãe que também é dele, porque eu precisava mesmo de ir até à praia ou simplesmente sair até ao rio, com um livro na mão e ziguezaguear, para respirar de novo. Ele não entendeu assim. E por força quis levá-la. Porque o meu irmão não suporta a aldeia. Eu também não. Especificamente, esta. Almoçamos umas batatas cozidas com sardinhas assadas. Estava calor. Voltamos a casa e ele decidiu insistir com ela, se ela já tinha feito o saco para ir passar dois ou três dias ao Porto. Ela, muito contrariada, enfiou num saco de fim de semana uma camisa de noite, alguma roupa interior, a medicação, os carregadores dos seus telemóveis, e disse-me que dessa vez ia, mas não voltaria a ir. Não gostava de sair da sua comodidade para estar com ele e com a mulher que ela não suporta, que é a companheira do meu irmão. 

No dia seguinte à sua partida, tentei ligar-lhe, mas não atendia no telemóvel e liguei para o telefone fixo do apartamento do meu irmão. Finalmente, atendeu-me no telemóvel, a chorar desalmadamente, que a fosse buscar, que estava muito mal, que ia morrer. Liguei para o meu irmão e não me atendeu. Liguei para a filha do meu irmão, que ainda era minha sobrinha na altura, e ela atendeu-me e pedi-lhe: Bea, por favor, trabalhas perto da casa do teu pai, vai ver-me a avó que está mal, em dez minutos estarei no Porto, tenta perceber o que se passa, mas chama-me o Inem. Assim foi. Em 13 minutos estava no Porto, na frente do Inem que se encontrava vazio, na entrada do prédio. Subi e encontrei personas non gratas lá em cima, para além da minha sobrinha, que me entregou a bolsa da minha mãe e a Eva sentada no balcão da cozinha, tentava responder às perguntas que os técnicos do Inem lhe faziam. Assim que me viu, ficou aliviada e contou-me que tinha passado a noite mal, entre vómitos e diarreia, que não quis incomodar o Antero e que ele tinha ido trabalhar. Caiu-me a ficha. Então, veio buscar a mãe, levando-a contrariada, para, afinal a deixar só no apartamento, doente. Acompanhei-a para o Hospital de S. João e só saí de lá às cinco da madrugada que foi quando lhe deram alta, depois de muitos tacs e muitos outros exames. O Antero tinha chegado do trabalho e ido direto ter comigo e repreendi-o. Trazer a mãe contrariada, para depois a deixar só. Deveria tê-lo feito na folga ou metido dois dias de férias. Assim, nem estava com ela. Compreendi que na altura, nem lhe tinha ocorrido que a mãe não podia continuar a ser empregada dele, a cozinhar para ele ou a fazer-lhe a cama e tratar da roupa do menino. Ele respondeu-me que só queria dar-me algum descanso a mim. Em momento nenhum, lhe pareceu que ela já não era a mesma. De facto, a sensibilidade só existe para quem se põe no lugar dos outros. 

Quando saiu do hospital de S. João, fomos ao Doce Alto, para ela tomar um chá ou leite quente e comer alguma coisa. Assim que saímos do Doce Alto, o meu irmão, como se fosse autista, continuou a insistir que a mãe iria ficar lá, que ele estava de descanso e ficava com ela e que ele e a namorada que já tinham arranjado alguém para tomar conta dela, que a Rosa ia chegar nessa tarde e conversariam sobre isso. A minha mãe de lágrimas nos olhos disse-lhe: Já te disse que não fico aqui nem mais um segundo, quero ir para casa em Penafiel. Não só não fico, como não volto a vir para o Porto. Já te disse, Antero Henrique. 

O meu irmão quis tentar emendar e dizer-lhe que então ficasse, para pelo menos ouvir o que ele e a namorada tinham para lhe dizer e que depois, se ela ainda quisesse vir, que a trariam. A minha mãe foi agressiva com ele, deu dois berros e disse-me para lhe abrir a porta do carro. Eu já tinha ido à farmácia, enquanto eles tomavam o pequeno-almoço no Doce Alto e arranquei. 

Nessa data, a minha mãe que já não fazia nada em casa, a não ser me colocar a mesa, às vezes, deixou de fazer fosse o que fosse e disse-me: Cristina, tens que assumir a pasta. A minha reforma blá blá blá, tenho esta conta, esta e esta, os pagamentos faço-os desta forma e gostaria que continuasses a fazê-lo desta forma. 

Por conseguinte, a partir dessa data, comecei a tratar também da parte monetária, dos pagamentos, das transferências, etc. 

Foi quando descobri que a minha mãe, que tem um cartão Universo, por causa das compras que ela fazia na Worten e lhe permitia adquirir eletrodomésticos e afins, que ela tinha cancelado o débito direto e tinha colocado os pagamentos por multibanco. É claro que banco nenhum gosta que lhe seja retirado o débito direto porque perde autonomia. E desde essa data, porque desconheço onde haja um balcão do banco Universo, porque já procurei e só me sabem dizer que são contactáveis apenas por email e um telefone que não atendem, fui com a minha mãe à loja, onde ela usava este cartão e ela pediu para serem alterados os dados do seu telemóvel e do seu email para os meus dados. Eles, Universo, continuam reiteradamente, a enviar para o meu telemóvel apenas e todos os meses a entidade e referência para pagamento de uma conta que nunca mais termina. A minha mãe afirma a pés juntos que está pago e mais que pago, que não podem continuar a enviar contas porque não lhes deve nada. Para além da própria loja Worten lhes ter telefonado em nossa presença, da minha mãe ter feito uma reclamação escrita no livro de reclamações da Worten e de eu lhes ter enviado mais do que um email exigindo que me enviasse uma carta ou um email com o valor total do débito para que pudéssemos acabar com esta situação e para eu poder dar cabo do cartão da Worten, não só se escusaram a responder aos emails, como continuam a enviar-me mensagens ameaçadoras, se não pagar mais 15,30, mais 15, mais 20, mais 30, dependendo do que precisam de receber, darão conta ao banco de Portugal. A minha mãe disse-me para não voltar a pagar mais nenhuma verba, até que enviem um esclarecimento, até que nos enviem o nosso esclarecimento. Ontem voltei a pagar. E assim que paguei, recebi outra mensagem deles, dizendo que por não ter pagado na data em que me enviaram a mensagem, ao invés dos 15 que já tinha pagado, lhes devia 30, 80 euros. Ora bem, posto isto, e depois de todas as abordagens que mantivemos com eles, depois da reclamação por escrito na loja Worten, depois das imensas tentativas feitas via email e telefonicamente, para que estes senhores donos do mundo pudessem justificar porque querem continuar a roubar e a ameaçar a minha mãe, se pudessem retratar, decidi que a melhor forma de chamar a atenção deles era colocar isto disponível. Tenho a certeza de que haverá muitas outras pessoas vítimas deste tipo de abordagem de bancos que se escusam a responder, ocultando-se num telefone indisponível e num endereço desconhecido, e então deixo disponível aqui nos meus blogs e também no facebook, que vai tendo alguma serventia em dar-me voz. A litigância e má-fé devem ser escrutinadas. O silêncio não é uma resposta e as ameaças provocam danos psicológicos. Fim de pagamentos. Data 18 de Junho de 2024. 


Junto anexo cópia do email enviado em Janeiro de 2024

 

incumprimento@universo.pt
Anexos16/01/2024, 13:53
para incumprimento, Bcc:Antero, Bcc:Antero
Bom dia 

Depois de inúmeras tentativas de ligar com o vosso departamento, aguardar horas e ser atendida e de desligarem a chamada e não voltarem a ligar, tenho todos os comprovativos de pagamento via multibanco.
Assim, venho desta forma, pedir a entidade e referência e valor total em dívida de Eva de Sousa Ramos (eu própria) o mais célere possível. 
Enviei-vos emails, sendo que o último tem a data de 23 de Outubro de 2023 ( Caso #07740183 - Olá, o seu pedido foi enviado para a equipa responsável (?) e vai receber uma resposta em breve. Obrigado, Universo ) O vosso problema foi eu ter terminado com o débito direto. Telefonei para a vossa linha a meio de agosto de 2023, dando-vos conta de ter mudado de direção e de contactos, vocês ignoraram claramente a minha chamada ou fingiram ter anotado. Já não resido na rua de Costa Cabral desde Agosto de 2023. O meu telemóvel mudou também, mas na altura pareceu-me que vocês eram uma empresa séria. Afinal, enganei-me. Junto vos envio digitalização da última carta (de muitas) que continuam a enviar para uma residência onde já não habito. 
Agradeço que me enviem, seja para a minha residência seja para este email ou para o meu telemóvel a entidade, referência ou valor em dívida. Não me continuem a enviar cartas porque eu não as recebo. Eu não tenho que pagar ora 29,98, ora 16, ora 30 euros. Nunca tal me ocorreu com esta instituição. Talvez o melhor seja dar baixa do meu cartão nesta instituição nada séria para mim, desde Agosto de 2023. Telemóvel 936728004, rua da Póvoa, 61,
4560-221 Marecos Penafiel e email avaloner2@gmail.com (agradeço que leiam este email).

Melhores cumprimentos, 
Eva de Sousa Ramos


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