Miranda Coventry
Fio de beque
Procurei-te em todos
os humanos encontrados,
ao acaso ou direcionada
procurei-te em cada qualidade
e feitio
procurei-te como a louca
do hospício a casa,
de fio a pavio,
de instruções na agenda,
procurei-te fria e quente
nos glossários da vida,
nas pautas de sol sustenido,
sem corpo presente,
procurei-te sempre
com a mesma sede
de te encontrar,
desconhecendo
a dimensão do risco,
de seres único,
diamante bruto,
de uma única forma,
de uma única estrutura,
gema, obelisco, conjuntura,
e tu fugidio, foste o tema
em permanente desafio.
Alto, como o sol,
apaixonado como a lua,
de entre mil
não encontraria outra alma semelhante
nobre gentio,
destino periclitante
eu buscava-te delirante
no oposto da foz
e tu sempre de mim a jusante
Endoideci, perdi rumo,
perdi lema, entrei no desvario
e rasguei-me como as velas
enfunadas do navio,
Cesso as buscas,
recuo a montante,
já deixei de ser quem era,
esqueci-me da procura,
demorei-me na espera!
Foi-se o cavaleiro andante,
o beirão da inocência,
a cumplicidade achada,
o feed back e as digressões,
o astrolábio e com isso tudo,
a bruxa, a babete e a monda.
Envelheci de medos
e sou, desde então a sombra
de ter sido cornucópia,
voltei-me para
a ciência das represas,
dos diques, do sabá mabon,
abdiquei das proas e das popas
dos binóculos e das bússolas,
das velas e, do horizonte a linha,
dei por encerradas as buscas
ao poema perdido.
Do passado vivido
tu serás sempre retábulo, voz
da alma que outrora foi minha.
Comentários