Amigos do doce & o Antero





 Luk Ank no seu farol abandonado


Hoje aniversariou o Antero. Não o de Quental que era conterrâneo, mas o Guedes que é o meu irmão. Cinquenta e três. A sensação de peso é maior hoje que no dia em que completei cinquenta e seis. Associo sempre o meu irmão do meio a um catraio que tenho que proteger. Leve, bem mais leve do que eu. Então, ele continua, para mim, a ter oito e eu fico-lhe com os anos todos nas costas. A desejar que ele saiba, melhor do que eu, fazer escolhas, que as escolhas feitas sejam boas e as preserve, que saiba defender as suas escolhas melhor do que eu, que nasci, acreditava antes, para cuidar deles. Há muito não se comemorava aqui nesta casa, com um dos meus bolos favoritos. O Antero sabe do que eu gosto e ao invés de trazer o "seu" Lua de mel, trouxe-nos o de frutas dos Amigos do doce. Francamente, tinha saudades deste bolo de fruta. Só gosto dos amigos do doce. Desde os meus vinte e nove anos que assim é. Uma casa de bolos que fica muito próximo da casa dos bisavós, pais do meu avô Rodrigo. Perto do Marquês, do hospital do Conde de Ferreira. 

O almoço foi feito por ele, portanto, tirei uma folga, nestes quase quatro anos de cozinhar todos os dias. Fez ragu com fetucini. Al dente. Esperamos pelo meu filho mais velho. Eram três horas da tarde estávamos a terminar o almoço. A minha neta também veio, a Jade. Também provou o bolo. Comecei o dia a lavar roupa e a queimar fotografias antigas, anteriores e posteriores a 2008. Álbuns de casamento e de divórcio, pessoas que foram próximas a ponto de considerar da família. Hoje queimei todas as fotos de gente que não conheço e que, do pouco que conheci, me serviram de lições de vida. Não chorei. Pelo contrário, quando o Antero chegou, estava a transpirar em bica, junto da fornalha, na churrasqueira. Ele confundiu os filmes e acreditou que eu chorava. Nem uma lágrima. Nem ponta de saudade. Nem nostalgia. Foi a melhor fogueira que vivi nos últimos trinta anos. Agora que a cozinha está arrumada, a roupa que estendi já seca e arrumada, a vida engavetada sem fantasmas, estendo-me neste sofá confortável e preparo-me para ouvir trinta minutos de música e depois uns filmezitos. 

Não há nada melhor do que descansar depois de limpar o lixo desde noventa e oito. 

Pai, grata pela companhia. 

Comentários

Mensagens populares