Pedro Tamen
Francesco Hayez, 1859
PEDRO TAMEN
NÃO SEI, AMOR, SE TE CONSINTO
Não sei, amor, sequer, se te consinto
nas palavras sem carne em que te minto
a verdade intemida em que me esqueces.
Não sei, amor, se as lavas do vulcão
nos lavam, veras, ou se trocam tintas
dos olhos ao cabelo ou coração
de tudo e de ti mesma. Não que sintas
outra coisa de mais que nos feneça;
mas só não sei, amor, se tu não sabes
que sei de certo a malha que nos teça,
o vento que nos leves ou nos traves,
a mão que te nos dê ou te nos peça,
o princípio de sol que nos acabes.
in TÁBUA DAS MATÉRIAS
Poesia 1956-1991
Círculo de Leitores.
Lisboa, 1995
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