A injustiça continua e não prescreve




INTERTEXTO

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Bertolt Brecht


Há cerca de 3 anos, e tenho sempre um marco a reger o tempo, porque a memória falha; aquando da separação, depois de ter sido roubada, traída, violentada, endividada pelo homem com quem casei em 2018, quando tive que vender o único bem imóvel para remediar os danos na minha atual casa e para pagar algumas dívidas que ele me fez, recebi aqui em casa uma cachorra de três meses, a que dei o nome de Kirie. E não obstante estar deprimida, chumbada da medicação na continuidade do enfarte a que sobrevivi em 2017, lembro-me que os animais foram os meus amigos. Um ser humano não esquece os seus amigos ou seria ingrata. Os meus amigos têm quatro patas todos. Cães e gatos. Não reconheço o termo em humanos, porque efetivamente não tenho amigos. Decidi enclausurar-me da sociedade, fazendo o mínimo possível parte de. Creio que muitos o fizeram, nas mesmas circunstâncias e sobraram sempre razões para dar palanque a tal. 

Pressenti ímpetos de agressividade nesta cachorra, e por vontade do meu Tomás que adora animais, recorremos ao canil de Penafiel várias vezes, aliás, para ser mais específica, três. Das três vezes, foi-nos negado auxílio. Não podiam ficar com a cadela e não tinham forma de auxiliar. Por esse motivo, recorri a uma clínica privada, a de Oldrões que me tratava dos gatos, para requerer os seus serviços ao domicílio, para que fosse colocado o chip, a esterilização e aplicadas as vacinas necessárias. A veterinária veio ao domicílio e "não conseguiu" aplicar nenhum serviço requerido. Teve medo da cadela e isto há três anos atrás. A resposta da clínica, na figura da veterinária foi a seguinte: Prometo que a vou ajudar. Vou contactar um veterinário meu amigo, de Valongo, que é o único que conheço para anestesiar a cadela e lhe darei notícias. Nunca o fez, como se depreende no depois. 

Há cerca de um ano atrás, fará este 21 de Julho um ano, a fazer jus aos autos da polícia, constantes na carta desta Instituição (ICNF), bateram-me à porta dois agentes da polícia e a veterinária do Canil de Penafiel, dizendo-me terem recebido uma denúncia da vizinhança em que os meus animais estavam malnutridos, e que teriam que averiguar tal. Confirmaram que não estavam malnutridos, e nessa altura, renovei o pedido de ajuda, já efetuado antes muitas vezes. A cadela é agressiva, necessita de cuidados básicos e aparentemente, não existe nenhum veterinário disponível que possa prestar tais cuidados. Disseram-me que nada poderiam fazer pois a cadela ainda não tinha atacado ninguém e que tentasse resolver a questão, ou receberia uma multa passado um ano. A coima vem pela instituição ICNF. A carta chegou anteontem. Ontem enviei um email pedindo a esta instituição os dados e referência para pagar a dita coima ou contraordenação onde se referem a mim como arguida. A multa é de 101 euros, mas pode ir até 3640 euros. No email enviado a ANA LUCAS, volto a pedir auxílio nessa questão. 

Há cerca de um mês, bem antes de receber esta carta, voltei a contactar os serviços da Clínica Calvet de Oldrões para efetuar o mesmo, uma vez já ter requerido à Associação Animarco para me apoiar nesse sentido e me foi dito que nem pensar, não tinham forma de me auxiliar nesse processo, mesmo que eu levasse o animal às instalações deles. Na clínica tentei explicar o problema que se arrastava há já três anos, no que dizia respeito a esta cadela. Depois da minha insistência, concordaram em agendar a esterilização e comprometeram-se em, ao efetuar tal, lhe aplicarem as vacinas bem como a colocação do chip. A dita clínica prescreveu uma medicação - GABENTINA 400mg, para começar a aplicar à cadela na refeição da manhã, uma cápsula por dia desde domingo até quarta, dia 19 de Junho, sendo que no dia 20, dia da cirurgia, em que a viriam buscar para as ditas intervenções aplicaria duas cápsulas desta Gabentina. A cadela mordeu o meu filho no dia 19, quando este tentou colocar-lhe uma trela. Mordeu ambas as mãos do Tomás. Liguei para o enfermeiro que não atendeu. No dia 20, a data de virem buscar a Kirie, o enfermeiro ligou-me a dizer que estava atrasado para a cirurgia marcada para as 10,45h. Pouco depois chegou o enfermeiro com uma auxiliar e tentaram perceber se ela iria entrar na jaula sem necessidade de outros meios para a dominarem. A Kirie não recebeu mal ninguém, mas quando o enfermeiro tentou mostrar-lhe a corrente e a trela, ela passou os dentes na sua mão, avisando-o. A Gabentina não só não funcionou como pode muito bem ter concorrido para que ela tenha mordido o meu filho no dia anterior. O enfermeiro, vendo-se incapaz de sozinho resolver a questão, chamou auxílio da veterinária que foi a mesma que recebi há três anos atrás e que me tinha prometido auxílio com o tal amigo veterinário de Valongo. Disse-lhe isso, que ainda aguardava o auxílio de há três anos atrás. A veterinária disse-me então que tentou auxiliar-me, mesmo sem nunca me ter contactado, pois tinha contactado, não o veterinário seu colega de Valongo, mas a veterinária do Canil de Penafiel. E ainda acrescentou que, quer os agentes quer a veterinária me sugeriram levar a cadela e que eu recusei. E eu volto a frisar, não só não deram crédito ao meu pedido, como ainda acrescentaram que nada podiam fazer pois a cadela AINDA não tinha atacado ninguém. 

Antes da veterinária da clínica desistir do caso, na figura da sua diretora ter saído da minha propriedade no dia 20, data do agendamento da esterilização da Kirie, aquando da minha insistência em resolver a questão, e quando eu disse que não entendia como é que os veterinários não tinham forma de resolver a questão, ela apenas me disse: eu não sou domadora de feras! e abandonou o local, junto com os seus funcionários, garantindo-me, mais uma vez, que não esqueceria o problema e que iria tentar ajudar-me. A ajuda não se demorou a chegar. Cedeu o meu número de telefone a um senhor que não é veterinário, mas que afinal, usa dardos e pistolas e é amigo das associações de animais de rua, e que se diz ser contra a eutanásia nos animais, a não ser em casos específicos. Nenhum deles me deu solução para este problema. Afinal, há mais coisas por detrás de tudo isto. Não podem ajudar, só podem ser ajudados. A corrupção vai vingando em todos os quadrantes. Que triste sociedade doente esta, em que vivemos!

Serve este post para constar das minhas memórias, mas que não seja somente e apenas isso. Que haja alguém consciente e elucidado, quiçá um especialista em comportamentos animais que se disponibilize a vir auxiliar nesta questão, antes que haja uma morte perpetrada pela Kirie e a liquidem e me coloquem a mim na cadeia. Dizem que as traves só se colocam na porta depois do roubo. A memória sofre de atentados e apagões constantes. Agradecia que houvesse seres humanos desse lado que pudessem, de alguma forma, me auxiliar a resolver a questão deste dossier sem fim chamado Kirie.

Tantas associações e clínicas veterinárias, tantos amigos dos animais, até partidos políticos em prol dos animais, mas infraestruturas e meios que apoiem e garantam segurança aos adotantes não. E cada dia menos me surpreende tantos animais abandonados. Se não conseguimos quem nos apoie e quem regule este tipo de laços, não há qualquer vontade de adoção.

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